domingo, janeiro 29, 2006

Episódios da vida romântica



"Love" - Mel Ramos, 1965

sábado, janeiro 28, 2006

“Where the truth lies” (2006), Atom Egoyan



Instinto (pouco) fatal

Lanny Morris (Kevin Bacon) e Vince Collins (Colin Firth) são os dois apresentadores/cómicos mais conhecidos dos Estados Unidos na década de 50. Quando as suas carreiras estavam no auge do sucesso, uma jovem é encontrada morta no quarto de hotel que os dois partilhavam. Apesar de nunca terem sido acusados de homicídio, este acontecimento trágico levou à separação do duo.
Quinze anos mais tarde, uma jornalista procura desvendar o mistério em redor da morte de Maureen, envolvendo-se num perigoso jogo.

Pretendendo ser um filme de mistério policial com laivos eróticos à mistura, “Where the truth lies” mais parece uma sequela rasca de “Instinto Fatal”.
As inúmeras analepses, o tom ilusório e esbatido e, principalmente, a imaturidade dramática da actriz principal (Alison Lohman), fazem deste filme um cansativo exercício que de mistério tem pouco.
Nem os experientes Kevin Bacon e Colin Firth conseguem salvar este filme.

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segunda-feira, janeiro 23, 2006

“Match Point” (2006), Woody Allen



Desconstrução do amor

Woody Allen deixou a sua Manhattan natal e instalou-se em Londres, onde realizou o seu mais recente filme.
Mas esta não é a única mudança significativa deste realizador que já vai na sua 36ª longa-metragem (mantendo a média de lançar um filme por ano): além da variação do cenário, Woody Allen encontrou uma nova musa inspiradora, a sempre fascinante Scarlett Johansson, e escreveu um argumento que de cómico tem pouco.
“Match Point” é o filme mais negro, denso e imprevisível que Allen alguma vez fez.

Chris (Jonathan Rhys Meyers) é um professor de ténis irlandês que pretende ascender socialmente e para isso casa com Chloe Hewett (Emily Mortimer), uma jovem mulher de uma família abastada.
Contudo, Chris conhece Nola Rice (Scarlett Johansson), a noiva do seu cunhado, e entre os dois inicia-se uma funesta e obsessiva paixão que vai levar a acontecimentos trágicos.

“Match Point” marca o regresso em magnífica forma do realizador/argumentista pelo qual já muitos tinham perdido o interesse.
Na realidade, este filme tem uma vitalidade e força atroz, capaz de deixar qualquer de boca aberta com o seu desenrolar. A meia hora final do filme é das coisas mais inesperadas que se podem imaginar, tornando este “Match Point” num soberbo exercício dramático que roça muitas vezes o film noir dos anos 40.

O elenco do filme é maioritariamente britânico à excepção dos dois protagonistas.
Jonathan Rhys Meyers desempenha com um enorme à vontade o ambíguo e moralmente inferior Chris enquanto Scarlett Johansson continua a subir o nível das suas interpretações, afirmando-se mais uma vez como uma actriz a seguir com bastante atenção.
A cidade de Londres tem também um importante papel neste filme ou não fosse Woody Allen um especialista em filmar grandes metrópoles, dando-lhes um carisma e vidas próprias.

“Match Point” é já um dos meus favoritos do ano.

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sábado, janeiro 21, 2006

“Caché” (2006), Michael Haneke



Sob vigia

Tudo corria normalmente na vida do casal Laurent quando Georges (Daniel Auteil), o marido, começa a receber vídeos onde aparece com a sua família. Além das misteriosas cassetes sem remetente, desenhos inquietantes são também enviados para este jornalista que não faz a mínima ideia de quem possa estar a atormentá-lo.

A partir do momento em que Georges e Anne (Julitte Binoche) começam a receber os enigmáticos vídeos e desenhos, toda a quietude que dominava as suas vidas desaparece. Em constante estado de desconfiança, o casal começa a perceber que a intenção da pessoa que os vigia não é apenas observá-los, mas sim fazer com que eles tomem consciência desse mesmo facto.

“Caché” é um intenso filme que relata sobretudo o enorme poder que as imagens têm na nossa sociedade. Aquilo que vemos na televisão é muitas vezes tido como verdadeiro e, o que Michael Haneke se propôs fazer, é alertar o público para o facto de sermos muitas vezes manipulados por imagens que, na realidade, são pura ilusão.
Não é por acaso que Georges, a principal vítima desta violação de privacidade, trabalha nos meios de comunicação…
O plano que encerra o filme deixa ao critério de cada um o desenlace da história pois o realizador pretende que cada pessoa tire as suas próprias conclusões. Segundo Haneke, os bons filmes são aqueles que destabilizam o público.

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quinta-feira, janeiro 19, 2006

“The Family Stone” (2005), Thomas Bazucha



I don't care whether you like me or not!

A tradição dos Stones é reunir todos os Natais os membros da família. Pela primeira vez o irmão mais velho, Everett (Dermot Mulroney), leva a namorada Meredith (Sarah Jessica Parker) para conhecer a sua família. Mas os Stones não ficam encantados com o perfeccionismo e a dureza de Meredith, fazendo com que esta não se sinta confortável e bem-querida no seu lar.

Este é mais um filme de Natal sobre os problemas familiares. Aqui, uma família ultra-moderna e descontraída não acolhe bem a namorada pretensiosa e moralista do filho mais velho, que tinha planos para a pedir em casamento no dia de Natal.
Mas além destes problemas familiares, “The Family Stone” retrata também os amores descobertos e alguns problemas de saúde revelados.

Oscilando entre a comédia romântica e o drama familiar, este filme nunca chega a ser nem uma coisa nem outra.
O desenlace do filme é bastante previsível e lamechas, optando o realizador por procurar o caminho mais fácil e talvez mais seguro para rematar a história desta família.
O elenco é um dos grandes trunfos do filme onde podemos ver a veterana e sempre magnífica Diane Keaton a contracenar com a divertida Sarah Jessica Parker e com a espontânea e ainda novata Rachel MacAdams (que em 2005 vimos em “Red Eye” e “Wedding crashers”).

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quarta-feira, janeiro 18, 2006

A aula*



*ou como fazer uns bons battements tendus.

Foto de Cornell Capa

domingo, janeiro 08, 2006

“Corpse Bride” (2005), Tim Burton/Mike Johnson



Why go up there when people are dying to get down here?

Depois de “Nigthmare Before Christmas”, Tim Burton volta a aventurar-se nos filmes de animação utilizando o método de stop-motion.

“Corpse Bride” relata a história de um casamento de conveniência entre uma família de peixeiros novos-ricos e uma família aristocrata em ruína. O noivo é um jovem tímido, Victor (voz de Johnny Depp), que se sente assustadíssimo com o seu casamento.
No dia do ensaio da cerimónia, conhece a noiva Victoria (voz de Emily Watson), com quem acaba por simpatizar bastante. Mas o ensaio corre tão mal que Victor refugia-se na solitária floresta em onde treina os votos. Estes saem tão perfeitos que Victor põe o anel de noivado no que achava ser o ramo de uma árvore. É então que surge a Noiva Cadáver (voz de Helena Boham-Carter) que insiste em dizer ser a sua nova esposa.

Baseado num conto tradicional russo, “Corpse Bride” tem como pano de fundo uma Inglaterra vitoriana cinzenta e governada por convenções e contratos sociais. É assim que Tim Burton vê o mundo dos vivos.
No oposto, vemos o mundo dos mortos bastante colorido, animado, onde esqueletos cantam jazz e dançam sapateado.
Todo este imaginário algo mórbido e sepulcral, já antes explorado no belíssimo “Nigthmare Before Christmas”, volta a ser o cenário que Tim Burton escolheu para nos contar uma história de amor.

Tecnicamente brilhante e visualmente arrebatador, “Corpse Bride” é uma história trágica, onde a personagem da Noiva Cadáver, a eterna sacrificada, é a “personificação” de um amor não correspondido.
Os ambientes góticos, a banda-sonora do já fiel colaborador de Tim Burton, Danny Elfman, a construção de personagens e ambientes e a trágica história de amor fazem deste “Corpe Bride” um encanto para os olhos, ouvidos e sentimentos.

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quarta-feira, janeiro 04, 2006

Radiohead: os melhores de sempre



Segundo a revista musical britânica "Q", os álbuns "Ok Computer" e "The Bends" dos Radiohead são os dois melhores discos alguma vez feitos. "Kid A" encontra-se também na tabela, em décimo lugar. É caso para felicitar a banda que já no prómixo mês de Fevereiro edita o seu novo trabalho!

Top Cinema 2005

O ano em filmes

1- “Charlie and the chocolate factory”, Tim Burton
2- “Garden State”, Zach Braff
3- “Gegen die Wand”, Fatih Akin
4- “Million Dollar Baby”, Clint Eastwood
5- “Crash”, Paul Haggis
6- “Sideways”, Alexander Payne
7- “Elizabethtown”, Cameron Crowe
8- “Mar adentro”, Alejandro Amenábar
9- “Last days”, Gus Van Sant
10- “Os Edukadores/Die Fetten Jahre sind vorbei”, Hans Weingartner
11- “Bin Jip/Ferro 3”, Kim Ki-Duk
12- “Mean Creek”, Jacob Aaron Estes
13- “Corpse Bride”, Tim Burton
14- “Closer”, Mike Nichols
15- “Birth”, Jonathan Glazer

segunda-feira, janeiro 02, 2006

“Shopgirl” (2005), Anand Tucker



Are you the kind of person that takes time to get to know, and then once to get to know them... they're fabulous?

Mirabelle (Claire Daines) é uma jovem empregada de um armazém de luxo que deseja ser artista mas que anseia sobretudo encontrar alguém para partilhar a sua existência vazia e solitária.
Aparecem então dois homens na sua vida, um o oposto do outro: Jeremy (Jason Schwartzman) é um jovem tímido e desajeitado, ainda com os tiques todos de um adolescente pouco conhecedor das lides românticas; Ray Porter (Steve Martin) é um homem maduro, com uma carreira de sucesso e que procura apenas uma companhia sem compromissos sérios.
Mirabelle opta pela segurança de Ray mas vai perceber rapidamente que os dois não querem a mesma coisa.


Fugindo de um típico triângulo amoroso, “Shopgirl” segue a vida angustiada e depressiva de Mirabelle que, até no seu emprego (numa loja, onde supostamente comunicaria com muita gente), se sente solitária. Toma anti-depressivos para não sucumbir de vez numa tristeza profunda pois a sua vida não passa de um conjunto de momentos entediantes e infelizes.
Jeremy aparece na vida de Mirabelle e com ela tem uma fugaz e rápida relação pois Mirabelle pretende algo de mais de um homem. E esse “algo mais” é personificado em Ray, um homem que lhe parece perfeito. Mas as coisas complicam-se quando Mirabelle percebe que não passa de um objecto sexual para este homem rico e solitário.
Os dois interpretam de maneiras diferentes a sua própria relação e, por essa mesma razão, o desencanto era mais que esperado.

“Shopgirl” é um olhar dramático sobre as relações modernas.
Há um elemento unificador entre estas três personagens, apesar de todas as visíveis diferenças: a solidão.
O filme roda em torno de visões isoladas destas pessoas que acabam por se encontrar umas às outras, no meio da multidão de Los Angeles.

Claire Daines é encantadora ao encarnar a fragilidade emocional de Mirabelle; Steve Martin (a quem este filme se deve uma vez que é a transposição para cinema de um romance seu) é galante e sedutor; Jason Schwartzman é adorável ao interpretar um jovem desengonçado mas com um enorme carinho e dedicação por Mirabelle.
“Shopgirl” (traduzido para português da pior maneira possível) é um filme sobre o amor que tem muito mais para oferecer do que apenas uma história simpática. Aqui, há muito mais que isso.

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