quinta-feira, novembro 23, 2006

“La Science des rêves” (2006), Michel Gondry



Tonight I'll show you how dreams are prepared, love, friendships, relationships. All those ships.

Michel Gondry é um nome bem conhecido na área de videoclips musicais. No seu currículo constam trabalhos realizados para os White Stripes, Björk, Daft Punk, Beck, Massive Attack, entre outros. Mas foi em 2004 que Gondry viu o seu nome mundialmente consagrado após realizar um dos melhores filmes dos últimos tempos: “Eternal Sunshine of a spoteless mind”. Neste pequeno tesouro do cinema independente, Gondry transportou toda a sua imaginação e fantasia para o grande ecrã.

Dois anos após o merecido sucesso de “Eternal Sunshine of a spoteless mind”, Michel Gondry volta às lides cinematográficas num filme que adopta claramente as concepções estéticas do anterior.
“La Science des rêves” segue a vida de Stéphane (Gael Garcia Bernal), um jovem que se muda para Paris após ter vivido no México. Com um emprego monótono em que lhe é impossível dar asas à sua fértil criatividade, Stéphane encontra na sua vizinha Stephanie (Charlotte Gainsbourg) uma cúmplice para os seus desvarios oníricos.
A vida de Stéphane transforma-se num verdadeiro caos, não só porque ele mistura constantemente os seus sonhos com a realidade, como também Stephanie, por quem acaba por se apaixonar, vai perdendo o interesse nele e nas suas invenções.

Seria bastante difícil para Gondry superar a sua obra-prima anterior, que além de ser visualmente original, tinha também um argumento fabuloso escrito em conjunto com Chlarlie Kaufman. Mediante isto, “La Science des rêves” é apenas um filme engraçado e bastante criativo nas cenas dos sonhos de Stephane (que são, sem dúvida, as partes mais interessantes e atraentes do filme).
O sempre versátil Gael Garcia Bernal e a actriz/cantora Charlotte Gainsbourg têm interpretações agradáveis de ver, apesar de nunca chegarem a brilhar como Jim Carrey e Kate Winslet, o par amoroso de “Eternal Sunshine of a spoteless mind”.

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quinta-feira, novembro 16, 2006

“Paris, Je t´Aime” (2006), vários realizadores



Em 1965 seis realizadores da Nouvelle Vague , entre eles Godard e Truffaut, assinaram um filme conjunto sobre Paris com o nome “Paris visto por…”.
Os responsáveis pelo projecto “Paris, Je t´Aime”, indo buscar claramente inspiração ao filme dos anos sessenta, pediram a dezoito realizadores de todo o mundo (originalmente eram para ser vinte) para filmarem uma curta-metragem sobre um bairro parisiense.
A cidade das luzes é assim filmada com diferentes pontos de vista e serve de cenário a pequenas histórias de amor, terror, solidão, etc. É esta diversidade de estilos que torna este conjunto de pequenos filmes tão agradável de visualizar.

Como era de prever, há curtas-metragens bem mais interessantes e melhor estruturadas do que outras. Dentro da categoria de verdadeiras pérolas cinematográficas encontramos a curta de Joel e Ethan Coen, com Steve Buscemi numa interpretação genial como turista alheio e estranho aos costumes locais na estação de metro das Tulherias; a de Isabel Coixet que filma a (re)descoberta do amor por parte de um casal à beira do divórcio; a de Tom Tykwer, com a sempre agradável Natalie Portman numa curta de ritmo aceleradíssimo e com sabor a filme indie em torno de duas personagens cativantes; a de Alfonso Cuarón, com Nick Nolte e Ludovine Saigner a darem-nos um final surpreendentemente inesperado e cómico; e a de Alexander Payne, autor de “Sideways”, que retrata a viagem solitária de uma americana de meia-idade a Paris, curta-metragem profundamente comovente e enternecedora.

Além destes pequenos sketches , “Paris Je t´Aime” é ainda constituído por pequenas obras de Gus Van Sant, Walter Salles, Wes Craven, Gérard Depardieu e Fréderic Auburtin, entre outros, e com interpretações de alguns nomes bem conhecidos como Fanny Ardant, Juliette Binoche, Willem Dafoe, Maggie Gyllenhaal, Marianne Faithfull, Elijah Wood, Bob Hoskins e Gena Rowlands.

Com um rol de actores e realizadores tão conceituados vale a pena ir ver este conjunto de filmes onde Paris, a eterna cidade do amor e do cinema, se torna também uma personagem com vida.

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sábado, novembro 11, 2006

Cena Clássica #5



"Bin Jip/3 Iron" (2005), Kim Ki-duk

segunda-feira, novembro 06, 2006

“Dans Paris” (2006), Christophe Honoré



Às voltas em Paris

Paul (Roman Duris) e Jonathan (Louis Garrel) são os dois irmãos do centro da história de “Dans Paris”. O primeiro volta à casa do pai em Paris após a dolorosa separação amorosa que o deixa em estado de completa depressão e inércia; o segundo é um bom vivant que num só dia tem três encontros sexuais com raparigas diferentes.

Estruturado com alguns flashbacks que nos apresentam o contexto da separação de Paul, “Dans Paris” é um filme melancólico e cinzento que apenas alivia nas cenas em que vemos a leviandade quase cómica de Jonathan (que chega a confessar que as aventuras sexuais que teve nesse dia foram em “honra” do irmão).

Romain Duris, que já conhecíamos desde o sucesso “L´Auberge espagnole” e do denso “De battre mon couer s´est arrêté”, e Louis Garrel (“The Dreamers”) são extraordinários na pele destes dois irmãos que, dadas as circunstâncias da vida, voltam a partilhar não só o mesmo espaço físico como também as suas mágoas e confissões.
Guy Marchant é também espantoso no papel do pai preocupado com os seus filhos e que tenta retirar Paul do seu profundo estado depressivo.

“Dans Paris” é o filme que procura ressuscitar a “nova vaga” do cinema francês, as suas personagens individualizadas e os momentos que parecem não fazer sentido nenhum.
É ainda um filme nostálgico, como podemos ver na belíssima cena em que Roman Duris está só no seu quarto a cantar “Cambodia” de Kim Wilde, música que o faz recordar os tempos da adolescência, esses anos 80 onde ainda não sofria por amor e tinha uma existência despreocupada.

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