domingo, dezembro 31, 2006

Top Cinema 2006



1 – “Match Point”, Woody Allen

2- “Babel”, Alejandro Gonzalez Iñarritu

3- “Marie Antoinette”, Sofia Coppola

4- “Le temps qui reste”, François Ozon

5- “Breakfast on Pluto”, Neil Jordan

6- “The squid and the whale”, Noah Baumbach

7- “The Departed”, Martin Scorsese

8- “Volver”, Pedro Almodóvar

9- “Little Miss Sunshine”, Jonathan Dayton/Valerie Faris

10- “Me and you and everyone we know”, Miranda July

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Boas festas!



Desejo a todos um Bom Natal e um 2007 cheio de bom cinema e boa música ;)

Espero que gostem do novo design do blog!

quarta-feira, dezembro 20, 2006

“Thank you for smoking” (2006), Jason Reitman



Michael Jordan plays ball. Charles Manson kills people. I talk. Everyone has a talent.

Nick Naylor (Aaron Eckhart) é um lobista que trabalha para a empresa Big Tobacco. É odiado por muita gente uma vez que o seu trabalho consiste em defender as empresas tabagistas e os milhares de fumadores do mundo inteiro. Intitulado de assassino de massas e sanguessuga, Nick é um homem que adora o seu trabalho desafiador e que acredita que o seu dom é falar.
Quando o senador Finistirre (William H. Macy) e os extremistas da saúde pretendem colocar rótulos nos maços de tabaco com a indicação de veneno, Nick vê-se imbuído numa missão que pretende devolver aos cigarros o seu estatuto de estilo e glamour, como sucedia na época áurea do cinema clássico americano.

“Thank you for smoking” tem a seu favor um brilhante argumento, adaptado do livro homónimo de Christopher Buckley. O assunto retratado é delicado mas este filme aborda-o dum ponto de vista satírico e oposto ao habitual: o “herói” do filme é o manipulador que ganha a vida a defender um produto que mata milhares e milhares de pessoas todos os anos. Mas é impossível não nos rendermos ao discurso impecavelmente bem articulado de Nick Naylor, por muito que sejamos contra o tabaco.

Nesta comédia satírica que pretende, de certa forma, ridicularizar a perseguição a que os fumadores estão sujeitos nos dias de hoje, o poder da palavra é a questão fulcral.
Provocatório e inteligente, assim podemos definir “Thank you for smoking”.

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quarta-feira, dezembro 13, 2006

Cena Clássica #6



"La maman et la putain" (1973), Jean Eustache

domingo, dezembro 10, 2006

"Fácil de Entender" - The Gift no CCB



Ontem os The Gift estrearam-se no Grande Auditório do CCB com um concerto de promoção ao novo disco, "Fácil de entender".
Em jeito de best of, a banda de Alcobaça desfilou músicas de todos os seus álbuns (com novos arranjos) e ainda nos presenteou com músicas inéditas e algumas versões.
Visualmente originais e inspirados, os The Gift afirmam-se mais uma vez como uma das grandes bandas portuguesas. Não só se nota um exímio profissionalismo aliado à boa disposição da banda em palco, como também a componente estética do espectáculo encontra-se no que de melhor se faz por cá.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

“The Queen” (2006), Stephen Frears



Nascida para reinar

Em Agosto de 1997 a morte da Princesa Diana chocou o mundo inteiro. A princesa do povo, como mais tarde viria a ser chamada, foi vítima de um fatal acidente de viação em Paris provocado por uns paparazzi que buscavam a última foto sensação da tão mediática Lady Di.
A resposta da família real britânica ao trágico e inesperado acidente foi manter a privacidade das emoções e não tornar público o funeral e as condolências prestadas a Lady Di. Em total contraste a esta posição conservadora e protectora tomada pela Rainha Isabel II (Helen Mirren), está a posição defendida por um então recém primeiro-ministro Tony Blair (Michael Sheen) que apelava a um funeral público onde o povo pudesse despedir-se da sua adorada princesa.

“The Queen” é um filme que segue as heranças britânicas de um gosto especial pelas biografias de figuras importantes, especialmente de monarcas que marcaram a história. No entanto, este filme não se trata de uma biografia da vida da Rainha Isabel II, mas sim de um episódio específico da vida da monarca que veio, de certa forma, pôr em causa o seu papel como governante.
O realizador Stephen Frears, que o ano passado nos brindou com o divertido “Mrs.Henderson Presents”, procurou completar as imagens ficcionais deste acontecimento com imagens reais e de arquivo, a fim de dar uma maior credibilidade ao filme.

“The Queen” é um filme composto por uma dicotomia: por um lado vemos a reacção contida e algo fria da família real em relação à morte da Lady Di, enquanto do outro lado vemos um povo emotivo a chorar a morte da sua princesa. No meio encontramos um primeiro-ministro que procura ser o mediador entre os desejos afectuosos do povo britânico e uma Rainha que pretende resguardar os seus sentimentos mais íntimos e privados.

Helen Mirren foi galardoada no Festival de Veneza deste ano com o prémio de Melhor Actriz, prémio que não podia ter sido melhor entregue visto este ser um dos papéis femininos do ano. A actriz conseguiu dar a Isabel II uma imagem não só de uma mulher forte que tenta a todo o custo manter o equilíbrio na sua família e nas relações com o seu povo, mas também uma mulher com sentimentos e extremamente humana (veja-se a cena em que a rainha vai ver o veado degolado).

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sexta-feira, dezembro 01, 2006

“Viúva rica solteira não fica” (2006), José Fonseca e Costa



Viúva antes do tempo

O novo filme de José Fonseca e Costa reporta-nos para século XIX, século onde decorre a história de Dona Ana Catarina (Bianca Byington), uma jovem aristocrata herdeira de vastos terrenos vinícolas. Depois de um primeiro casamento que resultou numa viuvez precoce, D.Ana Catarina volta a casar com cada um dos seus pretendentes. Deixando de lado o seu verdadeiro amor, a viúva rica acaba por assistir à morte estranha de todos os seus maridos.

“Viúva rica solteira não fica” é uma comédia negra onde a morte está sempre à espreita, aguardando o momento de entrar em cena.
O ambiente recriado para o filme é claramente queirosiano, desde o padre cheio de defeitos, aos ambientes luxuosos e falsos da alta sociedade portuguesa, passando pelas lutas e arrufos entre os pretendentes de D.Ana Catarina.

Sendo uma divertida comédia de costumes que tão bem nos alude para os ambientes de finais do século XIX, este filme ganha sobretudo pelo magnífico conjunto de personagens e actores onde encontramos um caricatural Capitão Malaparte, interpretado por Rogério Samora, e uma prestável e enigmática ama interpretada por Cucha Carvalheiro.

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quinta-feira, novembro 23, 2006

“La Science des rêves” (2006), Michel Gondry



Tonight I'll show you how dreams are prepared, love, friendships, relationships. All those ships.

Michel Gondry é um nome bem conhecido na área de videoclips musicais. No seu currículo constam trabalhos realizados para os White Stripes, Björk, Daft Punk, Beck, Massive Attack, entre outros. Mas foi em 2004 que Gondry viu o seu nome mundialmente consagrado após realizar um dos melhores filmes dos últimos tempos: “Eternal Sunshine of a spoteless mind”. Neste pequeno tesouro do cinema independente, Gondry transportou toda a sua imaginação e fantasia para o grande ecrã.

Dois anos após o merecido sucesso de “Eternal Sunshine of a spoteless mind”, Michel Gondry volta às lides cinematográficas num filme que adopta claramente as concepções estéticas do anterior.
“La Science des rêves” segue a vida de Stéphane (Gael Garcia Bernal), um jovem que se muda para Paris após ter vivido no México. Com um emprego monótono em que lhe é impossível dar asas à sua fértil criatividade, Stéphane encontra na sua vizinha Stephanie (Charlotte Gainsbourg) uma cúmplice para os seus desvarios oníricos.
A vida de Stéphane transforma-se num verdadeiro caos, não só porque ele mistura constantemente os seus sonhos com a realidade, como também Stephanie, por quem acaba por se apaixonar, vai perdendo o interesse nele e nas suas invenções.

Seria bastante difícil para Gondry superar a sua obra-prima anterior, que além de ser visualmente original, tinha também um argumento fabuloso escrito em conjunto com Chlarlie Kaufman. Mediante isto, “La Science des rêves” é apenas um filme engraçado e bastante criativo nas cenas dos sonhos de Stephane (que são, sem dúvida, as partes mais interessantes e atraentes do filme).
O sempre versátil Gael Garcia Bernal e a actriz/cantora Charlotte Gainsbourg têm interpretações agradáveis de ver, apesar de nunca chegarem a brilhar como Jim Carrey e Kate Winslet, o par amoroso de “Eternal Sunshine of a spoteless mind”.

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quinta-feira, novembro 16, 2006

“Paris, Je t´Aime” (2006), vários realizadores



Em 1965 seis realizadores da Nouvelle Vague , entre eles Godard e Truffaut, assinaram um filme conjunto sobre Paris com o nome “Paris visto por…”.
Os responsáveis pelo projecto “Paris, Je t´Aime”, indo buscar claramente inspiração ao filme dos anos sessenta, pediram a dezoito realizadores de todo o mundo (originalmente eram para ser vinte) para filmarem uma curta-metragem sobre um bairro parisiense.
A cidade das luzes é assim filmada com diferentes pontos de vista e serve de cenário a pequenas histórias de amor, terror, solidão, etc. É esta diversidade de estilos que torna este conjunto de pequenos filmes tão agradável de visualizar.

Como era de prever, há curtas-metragens bem mais interessantes e melhor estruturadas do que outras. Dentro da categoria de verdadeiras pérolas cinematográficas encontramos a curta de Joel e Ethan Coen, com Steve Buscemi numa interpretação genial como turista alheio e estranho aos costumes locais na estação de metro das Tulherias; a de Isabel Coixet que filma a (re)descoberta do amor por parte de um casal à beira do divórcio; a de Tom Tykwer, com a sempre agradável Natalie Portman numa curta de ritmo aceleradíssimo e com sabor a filme indie em torno de duas personagens cativantes; a de Alfonso Cuarón, com Nick Nolte e Ludovine Saigner a darem-nos um final surpreendentemente inesperado e cómico; e a de Alexander Payne, autor de “Sideways”, que retrata a viagem solitária de uma americana de meia-idade a Paris, curta-metragem profundamente comovente e enternecedora.

Além destes pequenos sketches , “Paris Je t´Aime” é ainda constituído por pequenas obras de Gus Van Sant, Walter Salles, Wes Craven, Gérard Depardieu e Fréderic Auburtin, entre outros, e com interpretações de alguns nomes bem conhecidos como Fanny Ardant, Juliette Binoche, Willem Dafoe, Maggie Gyllenhaal, Marianne Faithfull, Elijah Wood, Bob Hoskins e Gena Rowlands.

Com um rol de actores e realizadores tão conceituados vale a pena ir ver este conjunto de filmes onde Paris, a eterna cidade do amor e do cinema, se torna também uma personagem com vida.

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sábado, novembro 11, 2006

Cena Clássica #5



"Bin Jip/3 Iron" (2005), Kim Ki-duk

segunda-feira, novembro 06, 2006

“Dans Paris” (2006), Christophe Honoré



Às voltas em Paris

Paul (Roman Duris) e Jonathan (Louis Garrel) são os dois irmãos do centro da história de “Dans Paris”. O primeiro volta à casa do pai em Paris após a dolorosa separação amorosa que o deixa em estado de completa depressão e inércia; o segundo é um bom vivant que num só dia tem três encontros sexuais com raparigas diferentes.

Estruturado com alguns flashbacks que nos apresentam o contexto da separação de Paul, “Dans Paris” é um filme melancólico e cinzento que apenas alivia nas cenas em que vemos a leviandade quase cómica de Jonathan (que chega a confessar que as aventuras sexuais que teve nesse dia foram em “honra” do irmão).

Romain Duris, que já conhecíamos desde o sucesso “L´Auberge espagnole” e do denso “De battre mon couer s´est arrêté”, e Louis Garrel (“The Dreamers”) são extraordinários na pele destes dois irmãos que, dadas as circunstâncias da vida, voltam a partilhar não só o mesmo espaço físico como também as suas mágoas e confissões.
Guy Marchant é também espantoso no papel do pai preocupado com os seus filhos e que tenta retirar Paul do seu profundo estado depressivo.

“Dans Paris” é o filme que procura ressuscitar a “nova vaga” do cinema francês, as suas personagens individualizadas e os momentos que parecem não fazer sentido nenhum.
É ainda um filme nostálgico, como podemos ver na belíssima cena em que Roman Duris está só no seu quarto a cantar “Cambodia” de Kim Wilde, música que o faz recordar os tempos da adolescência, esses anos 80 onde ainda não sofria por amor e tinha uma existência despreocupada.

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sábado, outubro 28, 2006

“The Devil wears Prada” (2006), David Frankel



You are in desperate need of Chanel.

Andrea (Anna Hathaway) é uma jovem aspirante a jornalista que arranja o primeiro emprego numa revista de moda, a Runway, da qual nunca ouviu falar. Só que esta revista que lhe é desconhecida, é a maior revista de moda do mundo e tem como editora uma das mulheres mais conhecidas e implacáveis: Miranda Priestly (Meryl Streep).
Andrea passa a ser a nova assistente de Miranda, um emprego que milhares de raparigas gostariam de ter. Mas para a jovem tudo se torna num verdadeiro inferno uma vez a arrogante chefe despreza completamente os seus funcionários e obriga-os a cumprirem os seus exigentes caprichos.

“The Devil wears Prada”, filme que foi claramente inspirado na editora chefe da Vogue americana, Anna Wintour, dá-nos a conhecer os bastidores de uma revista de moda onde as aparências são o que realmente interessam. Os funcionários e a própria chefe têm que abdicar da vida pessoal em prol da dedicação e sucesso da revista.
Mas o que realmente é aqui analisado é a atitude de Miranda, uma excelente profissional com exigências extravagantes mas que no fundo compensa no trabalho aquilo que lhe falta na vida privada.

Este é um filme divertido, cheio de estilo e de piadas em torno do mundo dos estilistas e das passerelles.
Meryl Streep é espantosa na sua interpretação da fria e arrogante Miranda. Um papel em que não a imaginávamos mas que sem dúvida lhe assenta como uma luva. Chanel de preferência.

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terça-feira, outubro 24, 2006

"Little Miss Sunshine” (2006), Jonathan Dayton/Valerie Faris



Oh my God, I'm getting pulled over. Everyone, just... pretend to be normal.

A família Hoover é, aparentemente, uma família normal. Mas logo numa primeira abordagem ficamos a saber que esta família é bastante peculiar e vive em constantes fricções. O patriarca (Greg Kinnear) ganha a vida a fazer palestras sobre como ser um vencedor na vida, o avô (Alan Arkin) consume drogas e é o mais irresponsável do clã, o tio (Steve Carrel) é um homossexual que além de ter falhado na carreira, falhou também no seu suicídio, Dwayne (Paul Dano) é o irmão que fez um voto de silêncio até conseguir entrar para a Força Aérea e a mãe (Toni Collete) é quem tentar pôr uma certa ordem na casa e na família.
Falta-nos a pequena Olive (Abigail Breslin), que é a personagem por onde toda a história do filme gira em torno. Olive tem o sonho de vir a ser uma Miss e, com a ajuda do avô e da restante família, viaja até à Califórnia para participar no concurso Little Miss Sunshine.

A viagem que os Hoover fazem na sua carrinha Volkswagen, não só vai tornar o sonho de Olive numa realidade, como também vai servir para a própria família se conhecer.
É durante a viagem que estas personagens disfuncionais e excêntricas, cada uma com o seu travo individual de loucura, vão percebendo com quem realmente vivem e quais as fragilidades que as rodeiam como família.

“Miss Little Sunshine”, para além de ser uma divertidíssima comédia saída do cinema independente norte-americano, tem ainda umas agradáveis pitadas de sátira social e drama.
O elenco não podia ter sido melhor escolhido, com especial destaque para a pequena Olive.

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terça-feira, outubro 17, 2006

Cena Clássica #4



Tudo sobre mi madre (1999), Pedro Almodóvar

quarta-feira, outubro 11, 2006

“The Black Dahlia” (2006), Brian de Palma



Nothing stays buried forever. Nothing.

Adaptado do romance homónimo de James Ellroy, a história de “The Black Dahlia” passa-se em Los Angeles na década de 40.
Bucky Bleichert (Josh Hartnett) e Lee Blanchard (Aaron Eckhart), dois agentes policiais e ex-pugilistas, são destacados para investigar o caso de uma jovem aspirante a actriz que foi brutalmente assassinada.
À medida que a investigação avança, Bleichert e Blanchard vão-se tornando obcecados com o caso e as suas próprias vidas se misturam com a história da Dália Negra.

Visualmente repleto de glamour, ou não se tratasse de um filme decorrido na década de 40, “The Black Dahlia” peca em alguns aspectos, nomeadamente na exaustão de informação dada (informação essa que chega a confundir o espectador).
Vamos recebendo muitos dados mas é só na recta final do filme que os factos vão encaixando um pouco às três pancadas.

Inspirado claramente nos filmes noir dos anos 40 e 50, “The Black Dahlia” tem um argumento bastante interessante (que no entanto poderia ter-se centrado mais no assassinato da Dália Negra sem enveredar por outros caminhos), interpretações exigentes (se bem que Scarlett Johansson não tenha um papel muito relevante na trama) e é estilisticamente inspirador.

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sábado, outubro 07, 2006

O beijo



Kiss V (1964) - Roy Lichtenstein

sábado, setembro 30, 2006

“Impeach my bush” (2006), Peaches



Peaches, a libertina

A irreverente Peaches está de volta para mais um disco choque. Depois da estreia “Teaches of Peaches”, na qual ficámos a conhecer uma mulher sem papas na língua, seguiu-se “Fatherfucker”, igualmente explícito nas suas referências sexuais.

“Impeach my bush” é um álbum um pouco mais adulto e profissional, características que se notam nas sonoridades mais talhadas mas igualmente arrojadas.
A aposta mais rock e punk deste álbum é uma das principais diferenças em relação aos dois trabalhos anteriores onde eram as electrónicas que predominavam.

Contudo, “Impeach my bush” continua a apresentar-nos uma Peaches provocadora, extravagante e sexualmente irreverente, tanto na postura como nas letras das músicas.
A ouvir com atenção: “Tent in your pants”, “Boys wanna be her”, “Downtown”, “Get it” e “Rock the Shocker".



8/10

domingo, setembro 24, 2006

"The Pillowman", Teatro Maria Matos



A arte da escrita

Até que ponto tem um artista controle sobre a sua obra? Pode ele ser responsabilizado se alguém fizer mau uso da sua criação? Até onde vão os limites da arte?
Estas são apenas algumas questões levantadas na soberba peça que está agora em cena no Teatro Maria Matos em Lisboa.
“The Pillowman”, de Martin McDonagh e com encenação de Tiago Guedes (“Coisa Ruim”), é uma peça indispensável e com um excelente elenco composto por Gonçalo Waddington, Marco D´Almeida, João Pedro Vaz e Albano Jerónimo.
As interpretações, o texto mordaz, o efeito de luzes e os cenários são as componentes essenciais que fazem desta peça um excelente espectáculo.
Para ver até 15 de Outubro.

sábado, setembro 23, 2006

“Paradise now!” (2006), Hany Abu-Hassad



O Paraíso aqui tão perto

Said (Kais Nashef) e Khaled (Ali Suliman) são dois jovens palestinianos que são indicados para cometerem um atentado em Israel.
“Paradise Now!” é um filme que retrata as últimas horas destes dois bombistas suicidas, desde as suas despedidas com a família (que desconhecem a que destino fatal Said e Khaled se vão entregar), até aos rituais iniciáticos e preparatórios do acto “heróico” que estão prestes a cometer.

Este filme pretende mostrar um lado que nós desconhecemos: o lado mais humano e real destas pessoas que, levadas pelo seu fundamentalismo religioso, são capazes de tudo para mudarem um pouco o estado das coisas.
O confronto Palestina/Israel está bem vincado neste filme onde se evidenciam perfeitamente as diferenças abismais em termos sociais e económicos entre Nablus e Telavive.

Onde “Paradise Now!” se torna um grande filme, é precisamente onde muitos outros falham: não é preciso mostrar imagens gráficas de terror para sabermos o que se está a passar. Claro que falo na cena final do filme, cena essa silenciosa e uma das melhores que tenho visto ultimamente por toda a força e significado que lhe estão inerentes.

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terça-feira, setembro 19, 2006

“We are the Pipettes” (2006), The Pipettes



Pop às bolinhas

Três raparigas inglesas. Música divertida e coreografias kitsh. E bolinhas, muitos vestidos às bolinhas. Com estas palavras podemos definir as Pipettes, banda inglesa que editou este Verão um dos álbuns mais açucarados e alegres do ano.

“We are the Pipettes” é uma autêntica homenagem aos anos sessenta. Gwenno, Rose e Becki, o novo trio maravilha da pop britânica, não só souberam escolher os vestidos ideais inspirados no glamour dos anos sessenta, onde as bolinhas e as cinturas bem demarcadas predominam, como também foram beber as sonoridades dessa época.
Ao ouvirmos este álbum, a energia das raparigas é contagiante, assim como os ritmos plenos de palminhas e refrões orelhudos.

É impossível ficarmos indiferentes às músicas sumarentas com letras tão divertidas. “We are the Pipettes”, faixa de abertura do álbum homónimo, é como que um hino onde as três inglesas se afirmam como as raparigas mais giras que por aí andam. “Pull Shapes”, a música que se segue, é também uma das melhores amostras do divertimento do trio. “Dirty Mind”,“Your kisses are wasted on me” e “Tell me what you want” são outros excelentes temas que compõem este primeiro álbum tão original.

Pode ser que esta seja uma daquelas bandas de um só álbum mas também pode ser que a onda anos sessenta (com os vestidos às bolinhas incluídos) ainda esteja na moda para o ano.

8/10

sexta-feira, setembro 15, 2006

“Volver” (2006), Pedro Almodóvar



Voltar a casa

Almodóvar, cineasta (re)conhecido por transpor para os seus filmes o complicado universo das mulheres, volta a esta sua preferência após o seu último filme ("La Mala Educación") ser uma evocação do seu próprio passado e das suas vivências num mundo de homens.

Em "Volver" seguimos os passos de três gerações de mulheres fortes e determinadas mas com os medos e superstições a que o sexo feminino está mais susceptível.
Neste filme em que Almodóvar escolheu a sua terra natal como cenário (a ventosa La Mancha), Irene (Carmen Maura), que todos julgavam morta num incêndio juntamente com o seu marido, aparece às suas filhas para resolver alguns problemas pendentes.

Apesar da premissa espiritual e sobrenatural, "Volver" é um filme bastante realista sobre mulheres endurecidas pela vida e pelos homens, o eterno mal nos filmes de Almodóvar.
O desempenho das actrizes, premiadas no Festival de Cannes deste ano, é excepcional, com principal destaque para Penélope Cruz. A sua interpretação como Raimunda, sem dúvida a mais sofrida e forte destas mulheres, é admirável e mostra-nos o talento de uma actriz que até agora não se tinha revelado com a mesma paixão pela arte do cinema.

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domingo, setembro 10, 2006

Cena Clássica #3



Nightmare before Christmas (1993), Henry Selick/Tim Burton

sexta-feira, julho 28, 2006

Férias



Este blog volta a estar activo em Setembro.
Boas Férias a todos!

quarta-feira, julho 19, 2006

“Les filles du botaniste/As filhas do botânico” (2006), Sijie Dai



Flores selvagens

Min (Mylène Jampanoi) é uma jovem órfã que é enviada como estagiária para casa de um famoso e rígido botânico.
Inesperadamente, entre Min e An (Xiao Ran Li), a filha do mestre, surge uma cumplicidade que acaba por se transformar numa paixão proibida.

Com a contemplação e serenidade típicas do cinema asiático, “As filhas do Botânico” é um verdadeiro deleite a nível visual pois a fotografia do filme é, sem dúvida, belíssima.
Retratando um tema tabu para a sociedade e época em que o filme decorre (China dos anos 80), esta história de amor entre duas jovens é uma prova de como existem filmes genuínos e delicados sobre o amor homossexual para além de “Brokeback Mountain”.

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domingo, julho 16, 2006

“Happy endings” (2006), Don Roos



He thinks you're the American hero, making depressed women everywhere feel good.

Seguindo a mesma escola que “Magnolia” de Paul Thomas Anderson, “Happy endings” é constituído por um mosaico de três histórias e dez personagens que acabam por se interligar.

Mamie (Lisa Kudrow) teve na adolescência um filho do seu meio-irmão Charlie (Steve Coogan) e deu-o para adopção. Anos mais tarde, Mamie é chantageada por um pretendente a realizador que ambiciona fazer um documentário com o encontro entre Mamie e o filho.
Chalie, por sua vez, vive com Gil (David Sutcliffe) que doou o seu esperma a um casal de lésbicas suas amigas que acabam por ter um bebé. Apesar de negarem que o filho seja realmente de Gil, Charlie encontra semelhanças entre os dois e convence o namorado de que Max, o bebé, é dele.
Jude (Maggie Gyllenhaal) passa uma noite com Otis (Jason Ritter), um jovem homossexual não assumido. No entanto, quando conhece Frank (Tom Arnold), o pai deste, Jude decide envolver-se com ele uma vez que pretende tornar-se rica.

Com um vasto painel de personagens e tramas, “Happy endings” é um filme complexo que exige muita atenção por parte do espectador para uma compreensão eficaz.
Estas três histórias sobre o amor, desconfiança, família e ambição têm um travo cómico, ao mesmo tempo que em certas ocasiões conseguem ser também dramáticas.

O elenco é irrepreensível, onde se destacam MaggieGyllenhaal, Lisa Kudrow, Steve Coogan e Tom Arnold.
“Happy Endings” é constituído por três retratos de três vivências diferentes, que se por se confluem em acasos e coincidências, tal como na vida real.

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quinta-feira, julho 13, 2006

Cena Clássica #2



Lost in Translation (2003), Sofia Coppola

terça-feira, julho 11, 2006

“Me and you and everyone we know” (2006), Miranda July



If you really love me, let's make a vow - right here, together... right now.

Miranda July, artista plástica e performer, estreia-se nas lides cinematográficas com “Me and you and everyone we know”, uma primeira obra verdadeiramente surpreendente pela subtileza e doçura com que é filmada.

Richard (John Hawkes), pai de dois filhos, é um divorciado que procura que aconteçam coisas extraordinárias na sua vida.
Christine (Miranda July) é uma taxista de idosos que nos tempos livres se dedica a criar projectos artísticos nos quais mistura a sua própria vida com a arte que produz.
Um dia Christine leva um cliente até à sapataria onde Richard trabalha e entre os dois surge logo uma empatia, apesar de Richard tentar evitar um pouco as investidas de Christine.

Com um subúrbio de uma qualquer cidade americana como cenário, “Me and you and everyone we know” tinha tudo para ser uma obra banal mas felizmente Miranda July conseguiu inverter por completo essa situação.
July filma os devaneios artísticos da sua personagem (claramente inspirada nela própria), a fragilidade emocional de Richard, as descobertas sexuais do filho mais velho e das colegas de escola, a ingenuidade comovente do filho mais novo quando se envolve num romance via internet e os sonhos da jovem vizinha que vai coleccionando peças para o seu enxoval, com uma delicadeza e sentido estético por vezes tocante.

“Me and you and everyone we know” é um filme para se ver com o espírito aberto e pronto para receber uma amálgama de sensações. Há beleza nas imagens, na música que acompanha o filme e nas próprias situações que se vão desenvolvendo.
Por vezes insólito, este filme não deve passar despercebido aos amantes do bom cinema independente.

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quarta-feira, julho 05, 2006

“Collected” (2006), Massive Attack



Uma década a coleccionar grandes músicas

Os Massive Attack, em conjunto com os Portishead e Tricky, são um dos grandes nomes do trip-hop, género musical que surgiu em Bristol nos anos 90.
A importância da banda inglesa no panorama musical ficou marcada desde o primeiro álbum, “Blue Lines”, que data de 1991.
Neste disco e nas restantes obras dos Massive Attack, as sonoridades obscuras que se completam com as electrónicas, música soul e hip-hop, vieram marcar a diferença e completar um espaço da música que até aí não existia. Os Massive Attack, tal como outras bandas mais tarde, deram voz a um estilo alternativo permeado por colaborações com vários artistas de diversas áreas, nomeadamente do reggae, pop e soul (Elizabeth Fraser, Horace Andy, Sinead O´Connor, Tricky e, mais recentemente, Terry Callier são apenas alguns dos músicos que já colaboraram ou ainda colaboram com os Massive Attack).

Com um repertório de músicas do mais alto calibre, foi com certeza difícil para a banda escolher apenas alguns temas para inserir neste primeiro best-of, composto por dois discos áudio e um DVD com todos os videoclips.
No primeiro disco de “Collected”, podemos encontrar os grandes êxitos dos Massive Attack, como “Teardrop”, “Protection”, “Unfinished sympathy”, “Karmacoma” e o mais recente e assombroso single “Live with me”.
O segundo disco é composto por alguns b-sides e raridades da banda, como a colaboração com Madonna em “I want you”, a novidade “False flags” ou o ingresso menos feliz pelos terrenos das bandas sonoras, com o tema “Danny the dog”, inserido no filme com o mesmo nome.
O DVD contém a videografia completa da banda, na qual se inserem os fabulosos “Protection”, realizado por Michel Gondry (“Eternal Sunshine of a Spotless Mind”), “Karmacoma”, realizado por Jonathan Glazer (“Birth”) e “Angel” de Walter Stern.

“Collected” é uma obra essencial para qualquer apreciador de música. Ao longo dos dois discos e do DVD, percorrem-se os cinco álbuns de uma das bandas mais criativas e originais dos nossos tempos. Os Massive Attack são, sem dúvida alguma, um dos grandes nomes da música moderna. Agora é esperar ansiosamente por este Sábado para comprovar ao vivo o valor desta colectânea.

10/10

segunda-feira, julho 03, 2006

“Samaria/Samaritana” (2004), Kim-Kid-Duk



Cheia de graça

O ano passado estreou discretamente nas nossas salas uma das mais belas histórias de amor a que assisti nos últimos anos: "Ferro 3/Bin-jip". Este foi o primeiro filme que vi do cineasta sul coreano Kim-Kid-Duk e posso dizer que fiquei fã da sua forma contemplativa e serena de filmar.
Chega agora até nós “Samaria”, filme que data de 2004 e que ganhou o Prémio de Melhor Realização no Festival Internacional de Cinema de Berlim.

Jae-Young (Yeo-reum Han) é uma adolescente que se prostitui com o fim de arranjar dinheiro para ela e a sua melhor amiga viajarem até à Europa. A amiga, Yeo-Jin (Ji-min Kwak), marca os encontros com os clientes e alerta a sua amiga quando esta corre perigo de ser descoberta.
Mas um dia Yeo-Jin distrai-se e Jae-Young é surpreendida pela polícia quando está com um cliente. Apavorada, a jovem atira-se da janela e acaba por morrer no hospital.
Sentindo-se culpada pela morte da melhor amiga, Yeo-jin decide encontrar todos os clientes com quem Jae-Young teve relações e devolve-lhes o dinheiro que ambas tinham conseguido juntar.

“Samaria” é um filme sobre redenção e catarse. Yeo-jin, pretende penitenciar-se da morte da amiga e assim vai percorrer o mesmo caminho que ela. Ao dormir com todos os homens que foram clientes de Jae-Young e ao restituir-lhes o dinheiro, a adolescente sente que, de certa forma, está a redimir-se e a livrar-se da imensa culpa que a assola.
Também surge a figura do pai de Jae-Young que acaba por descobrir que a filha se prostitui. Sem nunca a encarar com o facto de saber o que ela faz, o pai segue os seus clientes e procura vingar-se pelas próprias mãos.

“Samaria” é um belíssimo filme que, tal como “Ferro 3/Bin-Jip”, é engrandecido pela força ascética das imagens.

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sexta-feira, junho 30, 2006

“The squid and the whale” (2006), Noah Baumbach



It's like... we were pals then... we'd do things together... we'd look at the knight armor at the Met. The scary fish at the Natural History Museum. I was always afraid of the squid and whale fighting. I can only look at it with my hands in front of my face.

A acção de “The squid and the whale” decorre nos anos 80, no seio de uma família disfuncional com dois filhos que recebem dos pais a notícia do seu divórcio.
Joan (Laura Linney) e Bernard (Jeff Daniels) são os pais, ambos escritores, mas um em proeminente ascensão de carreira (ela) enquanto o outro enfrenta o esquecimento por parte do público e das editoras (ele). Walt (Jesse Eisenberg) e Frank (Owen Kline) são os filhos adolescentes que, ao receberem a notícia do divórcio dos pais, têm que mudar o plano das suas vidas que passam a estar divididas entre a companhia do pai e da mãe.

Noah Baumbach é mais um dos jovens cineastas e argumentistas da nova geração indie norte-americana que nesta obra retrata as suas próprias memórias enquanto adolescente “sufocado” entre o divórcio dos pais intelectuais.

O tom de “The squid and the whale” varia entre a comédia e o drama familiar e pessoal das personagens, o que é sem dúvida uma mais valia que lembra alguns filmes de Woody Allen.
A imagem inundada de grão é outro pormenor que, apesar de bastante simples, nos remete logo para uma década anterior.
Tanto como Laura Linney como Jeff Daniels têm interpretações bastante boas, bem como os jovens actores que interpretam os filhos do casal.

“The squid and the whale” é um filme comovente, divertido e sensível que, apesar de ser “apenas” uma história sobre as relações familiares e as crises/dúvidas da adolescência, consegue ser muito mais do que isso.
Uma verdadeira surpresa de um realizador a ter em conta no futuro.

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terça-feira, junho 27, 2006

Cena Clássica #1



Blow-up (1966), Michelangelo Antonioni

segunda-feira, junho 26, 2006

Cenas Clássicas

Vou iniciar uma nova "rúbrica" no meu blogue: uma vez por mês vou mostrar uma imagem de um filme, imagem essa que por qualquer razão é clássica para mim (quer seja pela sua beleza ou apenas pelo significado). Desde filmes mais antigos, passando pelos que vi recentemente!

sábado, junho 17, 2006

“Hard Candy” (2006), David Slade



Quem tem medo do capuchinho vermelho?

Hayley (Ellen Page) é uma adolescente de catorze anos que, através da Internet, conhece Jeff (Patrick Wilson), um fotógrafo de trinta e poucos anos. Os dois combinam encontrar-se num café e, após várias trocas de olhares e gestos, Jeff convida a rapariga para ir até sua casa.
Depois de oferecer umas bebidas misturadas por si que levam a que Jeff fique inconsciente, Hayley prepara a sua vingança que tem como propósito descobrir o passado do fotógrafo.

O tema da pedofilia, tema este infelizmente tão em voga nos dias que correm, foi muito bem trabalhado pelo argumentista e pelo realizador que pretenderam fazer um filme diferente e inesperado.

“Hard Candy” nunca é aquilo que aparenta ser e o espectador muitas vezes não sabe de que lado se há-de colocar. Afinal a vítima é a adolescente astuta ou o presumível pedófilo? Acabamos por nunca ter a certeza pois também as verdadeiras intenções de Jeff para com Hayley permanecem num mistério.
O mais espantoso do filme é tratar-se mesmo de uma inversão de papéis: aqui a vítima não é a adolescente indefesa mas sim o pedófilo. A vingança que Hayley prepara é em nome de todas as vítimas que, supostamente, sofreram nas mãos de Jeff.

“Hard Candy”, filme que esteve presente no Festival de Sundance deste ano, vive sobretudo da interpretação dos dois actores e do espaço (pequeno) onde a acção se desenrola.
A utilização e escolha das cores (vermelho, cinzento e amarelo), a decoração minimalista e moderna do apartamento (local onde quase todo o filme é passado) e as bruscas mudanças de plano, são elementos estilísticos que saltam, e muito, à vista, ou não fosse o realizador especializado na área dos videoclips.

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segunda-feira, junho 12, 2006

“Le temps qui reste” (2006), François Ozon



O tempo que acaba

Romain (Melvil Poupaud) é um bem sucedido fotógrafo de moda que de repente vê a sua vida estável e em franca ascensão dar uma reviravolta: um cancro em fase terminal é-lhe diagnosticado. O médico prevê apenas três meses de vida para Romain que, nesse espaço de tempo, vai render-se ao inevitável fim prévio da sua existência.

Conhecido principalmente após a obra “8 Femmes”, François Ozon é daqueles realizadores que muda de estilo e temática em cada filme que faz.
Em “Le temps qui reste”, Ozon concentrou-se no tema da morte e nas consequências devastadoras que isso trás à pessoa que vê a sua vida acabar antes do tempo.

A personagem central do filme é um jovem que tinha tudo: uma boa casa, um emprego promissor, uma relação amorosa estável…mas de que lhe serve isso tudo quando descobre que sofre de uma doença que lhe permite viver apenas por mais uns meses?
Romain, após conhecer o seu fatal diagnóstico, não faz grandes planos para desfrutar esses meses que lhe restam. Muito pelo contrário, ele pretende apenas saborear alguns prazeres simples de forma a despedir-se da vida: uma visita à sua avó (a única que sabe da sua doença), um último encontro com o namorado, um “favor” que faz a uma mulher que pretende engravidar…assim são os últimos dias de Romain.

A entrega total de Melvil Poupaud à sua personagem é bem visível. A transformação que se vai operando em Romain não é só perceptível a nível físico mas também a visualizamos através da amargura e fragilidade sentimental, que vai sofrendo dia após dia.
“Le temps qui rest” é uma das melhores obras estreadas este ano em Portugal, com um tema bastante delicado e dramático como só a morte antes do tempo pode ser.

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sexta-feira, junho 09, 2006

Super Bock Super Rock – Act II 7 Junho



A consagração dos arquiduques

Ainda estava um sol radioso quando os Editors entraram em palco. A imagem negra e algo gótica que tínhamos da banda (concebida pelo imaginário das suas músicas e vídeos) desaba por completo quando o concerto inicia. Em palco estão quatro rapazes vestidos como qualquer jovem, simpáticos e prontos para dar início a um concerto para uma plateia não muito completa. A certa altura o vocalista confessa estar espantado por nós, audiência, conhecermos tão bem as músicas da banda, especialmente os singles. Numa actuação não muito longa, tivemos direito a uma música inédita, a uma cover da “Road to nowhere” dos Talking Heads e a actuações enérgicas de grande parte do álbum de estreia, “The Back Room”. Para uma banda com ainda pouca experiência nos palcos, os Editors saíram-se muito bem e revelaram ser bastante profissionais e entusiasmantes.

Depois do concerto dos dEUS que me passou ao lado e de uns The Cult completamente desenquadrados do perfil da noite, subiram ao palco os Keane, banda pela qual nutro uma certa simpatia. O concerto começou bem e animado mas após umas quatro músicas a monotonia instalou-se. Em vez de apostarem nas músicas mais “festivaleiras”, o alinhamento dos Keane tinha inúmeros momentos calmos demais para o tipo de evento, o que levou a um certo desinteresse por parte do público.

Por volta da uma da manhã entraram em palco a banda por quem todos esperávamos. Com “This boy” os Franz Ferdinand iniciaram o seu grandioso concerto, onde não faltaram os grandes êxitos como “Take me out”, “Michael”, “Do you want to”, “The Fallen”, “Walk away” e, a encerrar uma hora e meia de puro êxtase, “This Fire”.
A glorificação da banda escocesa estava feita: o público rendeu-se por completo à energia contagiante dos arquiduques. Pulos, palmas e gritos eufóricos foram elementos que não faltaram neste concerto que fechou em grande o primeiro dia do Act II do Festival.

No Palco Quinta dos Portugueses não se pode dizer que houve um “grande” concerto. Os que chamaram mais a atenção do público foram os Linda Martini, com os seus instrumentais longos de mais, e Legendary Tiger Man que estava na posição algo ingrata de ser o antecessor dos Franz Ferdinand, por quem o público tanto ansiava.

Os pontos altos da noite foram mesmo o primeiro e o último concerto: a boa revelação que foram os Editors (que esperamos que voltem brevemente e de preferência para um concerto de noite e com mais público) e a consagração dos Franz Ferdinand.

domingo, junho 04, 2006

“The Da Vinci Code” (2006), Ron Howard



You are the secret.

O livro “O Código Da Vinci” do norte-americano Dan Brown é, muito provavelmente, o livro mais falado dos últimos tempos. Era inevitável que este bestseller mundial fosse adaptado ao cinema e se transformasse num gigantesco êxito de bilheteiras.
O enorme sucesso do livro e, consequentemente, do filme, reside no facto do alto teor polémico e controverso que levanta, principalmente a nível religioso.

O filme começa com a descoberta da morte do curador do Museu do Louvre que deixa inúmeras pistas sobre quem o assassinou. Estas pistas vão apontar para uma organização religiosa (a Opus Dei) que pretende a todo o custo fazer vigorar os dogmas da Igreja Católica, tais como os conhecemos hoje.
Robert Langdon (Tom Hanks), um perito em simbologia, e a agente policial Sophie Neveue (Audrey Tautou) vão em busca da verdade enquanto são perseguidos pela polícia francesa e por Silas (Paul Bettany), um enviado da seita tal católica.

Claro que “The Da Vinci Code” não é um filme exemplar mas nem era esse o seu propósito. Apesar da enorme vaga de péssimas criticas que tem recebido (especialmente no Festival de Cannes), este filme é uma aceitável adaptação do livro de Dan Brown. Claro que inúmeros pormenores ficaram de fora e isso sente-se especialmente no tom apressado em que o filme corre, mas “The Da Vinci Code” consegue captar a atenção do espectador e ser um bom exemplo de um blockbuster.
Nas interpretações destacam-se, sem dúvida, Ian McKellen e Paul Bettany.

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quinta-feira, junho 01, 2006

Há 80 anos atrás...



...nascia Norma Jean Baker, mais conhecida como Marilyn Monroe

segunda-feira, maio 22, 2006

Ready to confess?



Madonna no concerto de abertura da sua nova tour.

domingo, maio 21, 2006

“Wassup Rockers” (2006), Larry Clark



O punk no sangue e o skate na mão

O ano passado estreou “Rize”, um documentário de David LaCahapelle que retrata o “krumping” e o “clowning”, duas novas formas de dança que surgiram nos subúrbios pobres de Los Angeles. A música de fundo era o hip-hop.
Esta semana estreia entre nós o novo filme de Larry Clark (também ele fotógrafo) que, tal como “Rize”, tem como cenário os mesmos subúrbios. Mas em “Wassup Rockers” o pano de fundo é o universo punk e skate.

Larry Clark é o realizador por excelência quando se fala em filmes polémicos sobre a juventude perdida e sem perspectivas futuras. “Kids” (1995), “Bully” (2001) e “Ken Park” (2002) são provas disso mesmo, filmes por onde desfilam adolescentes problemáticos que procuram no sexo, nas drogas e na criminalidade meios para tornar as suas vidas excitantes.

“Wassup Rockers” vai também ao encontro dessas temáticas, um pouco que mais atenuadas.
Neste filme encontramos um grupo de adolescentes hispânicos, fãs do skate e do punk e que, por isso mesmo, são ridicularizados no seu bairro onde a cultura hip-hop impera.
Sem se importarem com o que os outros miúdos pensam deles, estes “rockers” divertem-se a andar de skate, a vestirem-se e a pentearem-se como os Ramones e a ouvir punk rock.
O quotidiano destes rapazes vai ser drasticamente agitado quando decidem aventurar-se no universo rico e chique de Beverly Hills.

Com um realismo e crueza que já são típicos dos trabalhos anteriores de Larry Clark, “Wassup Rockers” é um retrato bastante fiel deste grupo de miúdos que se destaca no meio dos outros. No entanto, o filme perde alguma credibilidade em uma ou duas cenas patéticas que nada acrescentam ao desenrolar da trama.

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quarta-feira, maio 10, 2006

“Drawing Restraint 9” (2006), Matthew Barney



Rituais de Entrega

Matthew Barney, escultor e artista plástico, inspirou-se nas tradições ancestrais dos casamentos japoneses para este novo filme.
A bordo do baleeiro japonês “Nisshin Maru”, dois ocidentais (o próprio Matthew Barney e a cantora islandesa Björk) são iniciados nos rituais dos casamentos Shinto, nomeadamente com as suas vestes e comportamentos.
Ao mesmo tempo que se preparam para consumar a entrega dos corpos, uma escultura feita com gordura animal que se encontra no convés é destruída devido a uma tempestade. O líquido rapidamente começa a alastrar e vai ao encontro dos dois amantes, envolvendo-os por completo e permitindo que neles se operem grandes transformações.

Com uma banda-sonora composta por Björk, “Drawing Restraint 9” é um objecto difícil de classificar por se tratar de um “filme” onde apenas a beleza visual e musical interessam. Não existe praticamente argumento, as personagens não mostram qualquer sentimento e o surrealismo acompanha grande parte das cenas.

Apesar de por vezes ser imperceptível, “Drawing Restraint 9” é esteticamente belíssimo e é impossível não ficar fascinado com todos os rituais que vamos acompanhando.
Toda a cena da mutilação e entrega dos corpos entre Barney e Björk é, ao mesmo tempo, perturbante e magnetizante por toda a estranheza e simbolismo que nela estão representados.

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sábado, maio 06, 2006

“L´Enfant” (2005), Jean-Pierre Dardenne/Luc Dardenne



Dores do crescimento

Bruno (Jérémie Renier) é um jovem sem grandes ambições que efectua pequenos roubos para conseguir sustentar-se a si e à sua namorada que acaba de dar à luz.
Como jovem inconsequente que é e sem carácter para aguentar as responsabilidades da paternidade, Bruno pretende vender o bebé a troco de uma grande quantia de dinheiro. Quando Sonia (Déborah François) descobre o sucedido fica tão chocada que acaba por dar entrada no hospital. Bruno procura recuperar a criança mas descobre que existem certos negócios em que não se pode voltar atrás.

“L´Enfant” é uma obra bastante realista, quer pela frieza com que um delicado tema como este é retratado, quer pela própria maneira de filmar dos irmãos Dardenne, que optaram por não embelezar as paisagens nem adicionar qualquer música.

Neste filme acompanhamos o crescimento interior de Bruno, um jovem que no início prima os seus comportamentos pela irresponsabilidade e inconsciência e que recusa pensar na vida em termos futuros, apenas se preocupando com o que obtém por satisfação imediata.
Com os acontecimentos que se vão desenvolvendo na sua vida, Bruno muda drasticamente a sua forma de agir: cresce verdadeiramente e torna-se adulto.

A evolução da personagem interpretada por Jéremie Renier é, sem dúvida, o foco principal de “L´Enfant”.
A própria transformação que vemos em Bruno é sinal do fortíssimo desempenho do actor belga que, auxiliado pela estreante Déborah François, formam uma dupla de interpretações perfeitas.

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terça-feira, maio 02, 2006

Porque dia 29 de Abril foi o Dia Mundial da Dança...



...escolhi uma fotografia do meu bailado favorito: Apollo de George Balanchine

domingo, abril 30, 2006

“Lisboetas” (2004), Sérgio Trefaut



“Lisboetas” de Sérgio Trefaut ganhou o Prémio de Melhor Filme Português na primeira edição do IndieLisboa.
Mais do que um filme sobre a estranheza e desconforto de ter que partir para longe da família e do país natal, “Lisboetas” é um olhar sociológico sobre as verdadeiras realidades com que os imigrantes se deparam quando chegam ao nosso país.

Este documentário retrata a vida e as dificuldades de imigrantes de diversos países (Brasil, Ucrânia, Moldávia, China, Índia, Angola, etc.) que procuram no nosso país uma vida melhor.
Arranjar trabalho, aprender uma língua e uma cultura completamente diversa e, principalmente, sobreviver num país longínquo são os obstáculos que todos os imigrantes encontram. Em “Lisboetas” a câmara segue os passos de vários destes imigrantes que procuram na nossa capital ganhar o seu sustento e, de alguma maneira, sentirem-se como verdadeiros lisboetas.

Este documentário mostra-nos como estas pessoas por vezes diferentes de nós e que vemos todos os dias, são cidadãos lisboetas tão legítimos como aqueles que nasceram na capital: eles são importantes alicerces (muitas vezes explorados) para Lisboa ser a cidade que é.

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terça-feira, abril 25, 2006

“The ice harvest” (2006), Harold Hamis



He actually threatened to shoot Gladys if I did't tell him where the money was. But I think he was counting on a level of commitment and affection between her and me that just simply wasn't there.

Charlie (John Cusack) e Vic (Billy Bob Thornton) são dois advogados que planeiam roubar 2,15 milhões de dólares ao patrão na véspera de Natal. Pretendem fugir da sua cidade, Wichita, mas a fuga é adiada para o dia seguinte por causa de uma tempestade de gelo. Entretanto Charlie faz planos com a femme fatale Renata (Connie Nielsen), por quem está apaixonado, para ela partir com ele.

“The ice harvest” vai buscar todo o imaginário dos filmes noir mas fica-se apenas pelas boas intenções: na prática é um filme aborrecido, um tanto confuso, com um argumento banal que nunca chega a cativar.
John Cusack, um actor que já nos habituou à sua entrega total em papéis de “pessoas normais”, e algumas piadas de humor negro são as melhores coisas deste filme.
A prestação de Cusack como advogado de um mafioso apaga quase por completo todas as outras personagens do filme, nomeadamente a de Billy Bob Thornton que passa completamente despercebido.

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sexta-feira, abril 21, 2006

“Inside man” (2006), Spike Lee



My name is Dalton Russell. Pay strict attention to what I say because I choose my words carefully and I never repeat myself.

Spike Lee é considerado como um dos mais criativos e políticos realizadores americanos. Depois de realizar um dos grandes filmes dos últimos tempos, “25th hour”, o ano passado não parece ter corrido assim tão bem a Lee uma vez que a sua obra “She hate me” tenha ficado para muita gente apenas marcada pela premissa interessante.
O novo filme de Spike Lee parece fazer esquecer um pouco a mediania do filme anterior.

Um grupo planeia um assalto perfeito a um importante banco de Nova Iorque. Os inúmeros reféns são obrigados a vestirem-se tal como os ladrões, liderados por Dalton Russel (Clive Owen), para criarem a confusão entre quem é culpado e quem é inocente.
O Detective Keith Frazier (Denzel Washington) é nomeado para negociar com os assaltantes e garantir que estes não matam nenhum refém enquanto o director geral do banco (Christopher Plummer) contrata Madeline White (Jodie Foster) para esta assegurar que um segredo seu que está dentro de um dos cofres não seja revelado.

“Inside Man” é grandioso pela maneira energética com que é filmado e por abordar os temas que são tão característicos de Spike Lee: as tensões sociais e raciais numa América que é uma mistura complexa de inúmeras identidades.
Marcadamente mais mainstream do que as anteriores obras do realizador, “Inside Man” consegue ser um grande filme de puro entretenimento mas ao mesmo tempo ser inteligente e ter substância.
Com um trio de actores do mais alto calibre, o filme vai desenrolando-se a uma velocidade alucinante deixando o espectador com enorme expectativa quanto ao desenvolvimento da trama.
Os diálogos bastante políticos e com algum humor inteligente à mistura são também umas das boas características de “Inside Man”, bem como o argumento imprevisível e surpreendente.

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quarta-feira, abril 19, 2006

O lago dos cisnes



Swans reflecting elephants (1937), Salvador Dalí

segunda-feira, abril 17, 2006

“Basic Instinct 2” (2006), Michael Caton-Jones



Instintos do mais básico que há

A sedutora Catherine Tramell faz já parte do imaginário (principalmente masculino) cinematográfico. O seu descruzar de pernas enquanto estava a ser interrogada no filme “Basic Instinct” de 1992 tornou-se uma das mais famosas cenas do cinema não só pela carga erótica que carrega mas também por ser uma cena onde o papel manipulador e controlador ser de uma mulher. Sharon Stone transformou-se numa estrela com essa personagem e nunca mais conseguiu livrar-se da pele de femme fatale.
Faz sentido fazer uma sequela do thriller mais famoso do mundo? A resposta é definitivamente não após visionarmos “Basic Instinct 2”.

Catherine Tramell (Sharon Stone), a popular escritora de policiais eróticos, é suspeita de ter morto o seu namorado, um famoso desportista.
O psiquiatra Michael Glass (David Morrissey) fica responsável pela avaliação daquela misteriosa e aliciante mulher. Entre ambos há, desde logo, uma intensa atracção. Michael deixa-se seduzir por Catherine que o envolve num jogo de mentiras, sexo e morte. Mas a questão que se coloca é: será que é Catherine que manipula Michael ou é o contrário que se passa?

“Basic Instinct 2” tem um argumento bastante fraco apesar de dar ares de ser muito rebuscado. As falas de teor sexual que acompanham o filme todo são, muitas vezes, ridículas e despropositadas enquanto que o actor principal, David Morrissey, consegue a proeza de ser um mero boneco ao não exprimir qualquer sentimento.
Os ambientes sofisticados, principalmente a casa de Catherine e o consultório de Glass, são os pontos mais favoráveis desta sequela tão básica.

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quarta-feira, abril 12, 2006

“La tigre e la neve” (2006), Roberto Benigni



A vida é outra vez bela

Em 1997 Roberto Benigni comoveu o mundo inteiro com o seu filme “La vita è bella”, uma intensa e emocionante história de amor durante a Segunda Guerra Mundial.
Com “La tigre e la neve” Benigni vai buscar de novo esse imaginário com cenário bélico, desta vez a Guerra do Iraque, para nos contar uma história onde o amor é, mais uma vez, o grande impulsionador dos actos humanos.

Attilio (Roberto Benigni) é um poeta e professor universitário que sonha encontrar a mulher ideal. Através do seu amigo Fuad (Jean Reno), um poeta iraquiano, Attilio conhece Vittoria (Nicoletta Braschi) e apaixona-se perdidamente por ela. Apesar dos esforços do poeta, Vittoria permanece indiferente às suas desajeitadas investidas amorosas.
Quando recebe a notícia de que Vittoria se encontra num hospital em Bagdad após ter sido vítima de um bombardeamento, Attilio parte imediatamente para a capital iraquiana para salvar a sua amada.

Como já referi, “La tigre e la neve” tem algumas semelhanças com “La vita è bella” principalmente por se tratar de uma história de um homem que comete as maiores loucuras para ir ao encontro do seu grande amor. Os campos de concentração da Segunda Guerra Mundial são neste filme substituídos por um hospital sem quaisquer condições em Bagdad, durante a Guerra do Iraque em 2003.

“La tigre e la neve” não consegue superar a obra-prima de Benigni pois está muito colada a ela mas, no entanto, consegue ser um filme bastante bonito e humano, onde as peripécias deste homem nos fazem rir ao mesmo tempo que nos comovemos com a sua entrega incansável ao amor.

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