segunda-feira, dezembro 26, 2005

Top Música 2005


O ano em álbuns

1 - Arcade Fire – “Funeral”
2- Sigur Rós – “Takk”
3- Madonna – “Confessions on a dance floor”
4- Kaiser Chiefs – “Employment”
5- Ladytron – “Witching Hour”
6- Kasabian – “Kasabian”
7- Coldplay – “X&Y”
8- LCD Soundsystem – “LCD Soundsystem”
9- The White Stripes – “Get behind me Satan”
10- Fischerspooner – “Odissey”
11- Beck – “Guero”
12- Franz Ferdinand – “You could have it so much better”
13 – Editors – “The Back Room”
14- Kraftwerk – “Minimum/Maximum”
15- Bloc Party - “Silent alarm”



O ano em singles

1- “Hung up” – Madonna
2 - “Rebellion (Lies)" – Arcade Fire
3 - “Do you want to” – Franz Ferdinand
4 - “Everyday I love you less and less” – Kaiser Chiefs
5 - “Tribulations” – LCD Soundsystem
6- “My doorbell” – The White Stripes
7- “Ooh la la” - Goldfrapp
8- “Glósóli” – Sigur Rós
9- “Destroy everything you touch” - Ladytron
10- “Precious” – Depeche Mode
11- "d.a.r.e" - Gorillaz
12- “Chicago"– Sufjan Stevens
13- “Drop the pressure” - Mylo
14- “Girl” – Beck
15- “Hey now now” – The Cloud Room

sexta-feira, dezembro 23, 2005

quarta-feira, dezembro 21, 2005

“O Fatalista” (2005), João Botelho



Já vejo o destino menos negro.

Tiago (Rogério Samora) é um motorista que, enquanto guia o seu patrão (André Gomes) numa viagem por Portugal, lhe vai contando a história dos seus amores, repetindo inúmeras vezes a frase: ” Tudo o que de bem ou de mal nos acontece cá em baixo, está escrito lá em cima".
Para Tiago, é esta máxima filosófica que controla os actos humanos. Tudo já foi escrito “lá em cima”, por isso, de nada vale querer alterar o nosso destino.

“O Fatalista” é uma adaptação do livro “Jacques le falaliste” de Diderot, concluído em 1773. Mas é engraçado apercebermo-nos como esta história nos parece mais moderna que nunca e como surge de uma forma muito mais teatral do que cinematográfica.

O filme que é constituído por pequenos episódios caricatos, ora retratando o passado amoroso de Tiago, ora a sua viagem presente com o patrão.
Pelo meio conhecemos a história da vingança cruel da Senhora D. (uma fantástica Rita Blanco) para com o Marquês (José Wallenstein): esta pequena história sobre as aparências sociais que é narrada pela estalajadeira (Suzana Borges) é, de facto, a parte mais interessante do filme (importante referir que é uma adaptação do romance “Les liaisons dangereuses” de Choderlos de Laclos que por sua vez foi adaptado ao cinema pela mão de Stephen Frears em “Dangerous Liaisons”).

“O Fatalista” um filme arrojado, com um sentido de humor refinado e repleto de boas interpretações por parte de um elenco bastante conhecido do público (o que só vem evidenciar como temos um leque bastaste restrito de actores).

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domingo, dezembro 18, 2005

“Broken Flowers” (2005), Jim Jarmush



You are the Don Juan.

Don (Bill Murray) é um conformado solteirão que após ver sair da sua vida a mais recente namorada, entrega-se a uma existência vazia e sem interesses.
Mas o inesperado acontece quando Don recebe com uma carta anónima de uma paixão antiga que diz ter um filho seu, actualmente com 19 anos.
Com a ajuda e entusiasmo do seu vizinho Wiston (Jeffrey Wright), Don parte em busca das ex-namoradas com o intuito de saber qual delas é a mãe do seu suposto filho.

Muito mais do que uma simples visita às cinco ex-namoradas, esta viagem representa um reencontro com o passado que faz com que a personagem principal se interrogue sobre o seu actual estado.
Todas estas mulheres (Sharon Stone, Frances Conroy, Jessica Lange e Tilda Swinton) que fizeram parte do passado de Don vão também ser peças fundamentais para este perceber o estado de profunda melancolia e solidão em que se encontra.

À semelhança de “Lost in translation” e “Life aquatic with Steve Zissou”, Bill Murray interpreta na perfeição a desilusão e desencantamento de um homem de meia-idade que espera encontrar algum conforto e reconhecimento por parte dos outros.
“Broken Flowers” é um filme silencioso (tal como o estado de alma e a casa do seu protagonista) que muito fica a ganhar com a interpretação deste grande actor.

A ideia de partida deste filme é animadora, não só pelo argumento mas também pelo elenco de luxo. Contudo Jim Jarmusch poderia ter ido mais longe, principalmente no final que, mais uma vez à semelhança de “Lost in translation”, surge em aberto deixando o espectador com inúmeras possíveis interpretações. Mas se no filme de Sofia Coppola essa é uma peça fundamental para filme, em “Broken Flowers” faria mais sentido termos um final concreto e não uma ideia muitíssimo vaga das coisas.

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sexta-feira, dezembro 16, 2005

“Just like heaven” (2005), Mark Waters



Almas penadas

David (Mark Ruffalo), um arquitecto paisagístico, decide mudar de casa e encontra um belíssimo apartamento em San Francisco.
No entanto a sua vida não corre calmamente como o esperado uma vez que uma mulher chamada Elizabeth (Reese Witherspoon) lhe aparece pelo meio da mobília a dizer que é a verdadeira proprietária da casa.
Os dois chegam à conclusão que Elizabeth é um fantasma e então unem esforços para a fazer voltar ao seu corpo que se encontra em coma. Pelo meio, e como seria de esperar, os dois apaixonam-se.

“Just like heaven” não trás nada de novo e vai buscar muitas ideias a tantos outros milhares de filmes que já vimos na televisão num sábado à tarde.
Divertido q.b, esta é mais uma história de amor com um final feliz e cheio de cor.
O par romântico até tem uma prestação eficaz, o problema deste filme reside na falta de originalidade e numa resolução básica e simplista da conclusão.
Ao menos salve-se a música do final que dá nome ao filme, “Just like heaven” dos The Cure.

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quarta-feira, dezembro 14, 2005

“Confessions on a dance floor” (2005), Madonna



A rainha das pistas de dança

Há 22 anos uma rapariga lançou o seu primeiro álbum repleto de músicas para dançar até de madrugada nas discotecas nova-iorquinas da altura. O que ninguém pensava é que essa mesma rapariga viesse a tornar-se num dos maiores ícones dos nossos tempos e que passados tantos anos voltasse às origens. Porque Madonna, como artista, nasceu no meio das pistas de dança e é para aí mesmo que regressa neste seu novo trabalho.

“Confessions on a dance floor” é o álbum que trás a Madonna que muitos julgavam já extinta: uma Madonna cheia de vontade de dançar e mais preocupada em pôr os ouvintes a abanar o corpo do que em fazer baladas e músicas muito profundas.
Mas engane-se quem pensar que estas confissões de Madonna estão desprovidas de conteúdo e profundidade: há algumas músicas, com especial evidência na “Let it will be”, que ganham muito pela letra.

Após “American Life” ter sido recebido com alguma indiferença pela crítica e público, “Confessions on a dance floor” parece destinado a triunfar. A abrir com o já mega-sucesso “Hung up” que utiliza um sample da famosíssima “Gime Gime Gime (a man after midnight)” dos Abba, este álbum nunca quebra o ritmo ao longo das 12 músicas que estão interligadas.
Inspirado nas décadas de 70 e 80, o novo álbum de Madonna regressa aos sons electrónicos e disco reciclando algumas sonoridades que pareciam perdidas no tempo.
Sendo revivalista mas ao mesmo tempo futurista, este álbum é um conjunto de grandes músicas que muito ficam a dever ao produtor Stuart Price (a.k.a Jacques Lu Cont) que trabalha com Madonna há já alguns anos.

“Sorry”, o já confirmado (e acertado) segundo single, é tão catchy como “Hung Up”, com um refrão que não vai passar despercebido.
Depois temos “Future Lovers” que de início lembra “Rescue me” da primeira compilação de Madonna (“The Immaculate Collection”). Uma música que, tal como o nome indica, é deliciosamente futurista bem ao contrário dos anos 80 que são bem explícitos em “I love New York”, a música que homenageia a cidade que a tornou conhecida.
“Let it will be” começa por nos fazer lembrar o sucesso da diva de 1986, “Papa don´t preach”. Mas ao invés de falar sobre os problemas da gravidez na adolescência, Madonna fala-nos da fama e do sucesso como duas coisas que não lhe trouxeram felicidade. A par da fantástica “Like it or not”, que encerra o álbum com uma batida intensa a fazer lembrar Goldfrapp, estas duas são provavelmente as músicas mais interessantes a nível de letras.
“Forbidden love” é a mais calma e a sua doçura remete-nos para os ambientes oníricos dos Air.
“Jump” é a música para dançar sem parar numa discoteca revivalista, enquanto “How High” é exageradamente robótica, com batidas electrónicas acompanhadas com a voz de Madonna distorcida no vocoder.
E como não poderia deixar de ser, Madonna fez questão de fazer uma música baseada na sua crença religiosa, a Cabala. “Isaac” é o ponto mais dispensável do álbum que, apesar de ter uma melodia interessante, muito fica a perder pela voz masculina.
“Push” é um achado de ritmo e exotismo.

“Confessions on a dance floor” é um belíssimo regresso de Madonna aos grandiosos álbuns pop, algo que não acontecia desde “Ray of light”.
Aqui temos Madonna num registo eficaz e cativante, que a transporta para o seu habitat natural: as pistas de dança.

Principais destaques: “Hung up”, “Sorry”, “I love New York”, “Forbidden Love” , “Push” e “Like it or not”.

9/10

terça-feira, dezembro 13, 2005

“Rize” (2005), David LaChapelle



Dance and sing, get up and do your thing.

David LaChapelle é um fotógrafo bastante conhecido por fotografar gente famosa em cenários completamente surrealistas e repletos de cores berrantes.
Mas desta vez aventurou-se pelo mundo cinematográfico ao realizar um documentário sobre duas novas expressões de dança: o “Clowning” e o “Krumping”.

A acção decorre nos bairros pobres dos subúrbios de Los Angeles onde os jovens negros dançam como forma de exteriorizar as suas frustrações.
Porque aí só há duas opções: ou tornam-se membros de gangs ou membros destes grupos de dança.
Ao criarem estas duas novas vertentes rítmicas (que vão buscar muitas influências ao breakdance), estes jovens tentam fazer das suas existências revoltadas um melhor lugar para viver, rejeitando a violência e decadência que assolam nos seus bairros.

David LaChapelle tem uma eficaz estreia neste documentário que mostra de uma maneira muito humana a vivência destes dois grupos.
Apesar de como fotógrafo as suas imagens terem ainda mais força, “Rize” é um espectáculo visual bem ao estilo de LaChapelle.
As cores garridas imperam e são talvez o maior trunfo do realizador.

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segunda-feira, dezembro 12, 2005

Amesterdão













Como uma cidade com casinhas, bicicletas e muitos canais consegue ser tão maravilhosamente bela.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

sexta-feira, dezembro 02, 2005

“Proof” (2005), Jonh Madden



I didn't find it. I wrote it.

Catherine (Gwyneth Paltrow) é uma jovem estudante de matemática que por causa da doença do seu pai Robert (Anthony Hopkins), um génio que começa a enlouquecer, tem que abandonar os estudos.
Após a morte do pai, a jovem começa a interrogar-se a si mesma se terá herdado do pai a genialidade ou a loucura. Ou terá herdado ambas as coisas?
Enquanto Catherine tenta descobrir a herança paterna, vê-se confrontada com a irmã que em tudo difere dela e com Hal (Jake Gyllenhaal), um jovem matemático e ex-aluno de Robert.

“Proof” é um filme razoável em todos os aspectos. As interpretações nunca passam de medianas (excluindo a interpretação bastante eficaz e realista de Gwyneth Paltrow) e as personagens secundárias parecem ser meros bonecos que nada acrescentam à narrativa do filme.
Também aqui encontramos diversos lugares comuns, tão típicos neste género de filmes: os génios são todos loucos e vivem no seio de uma família disfuncional.

Contudo, “Proof” não desilude por completo e consegue mesmo ter muitas cenas de grande intensidade dramática, graças à pujança de Gwyneth Paltrow, como já referi.

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domingo, novembro 27, 2005

“On danse” – 26 Novembro, Culturgest



A dança é feita de contrastes

Os coreógrafos José Montalvo e Dominique Hervieu trouxeram a Portugal o espectáculo “On Dance” que já percorreu variados países da Europa.
Para este bailado foram buscar a ópera barroca “Les Paladins” de Jean-Philippe Rameau e conceberam um espectáculo que pretende recriar o mundo do século das luzes e toda a extravagância e libertinagem que se vivia nas cortes do palácio de Versailles.

Peça para 17 intérpretes masculinos e femininos, “On Dance” é um espectáculo que concilia muitos estilos de dança como o hip-hop, flamenco, ballet clássico e moderno e danças africanas.
Dois enormes ecrãs faziam de cenário, cenário este não apenas decorativo mas sim com uma importância bastante relevante e enriquecedora para a encenação.
Além de um mero espectáculo de dança, “On dance” é também uma divertida e bastante original visão do universo francês do século XVIII onde a imaginação e a fantasia imperam.

“Ferro 3/Bin-jip” (2005), Kim Ki-duk



Um amor (in)visível


“Ferro 3/Bin-jip” não é uma história de amor convencional. É antes um olhar terno e mágico sobre o amor que existe entre dois seres que à partida são completamente estranhos.
Mais um belíssimo filme que nos chega de terras orientais.

Tae-Suk (Jae Hee) é um jovem que distribui panfletos de porta em porta e que aproveita o facto dos residentes não estarem em casa para aí ficar a viver momentaneamente. Mas Tae-Suk não é um ladrão, muito pelo contrário: o jovem arruma a casa, lava a roupa e arranja qualquer objecto que se encontre estragado.
Numa dessas visitas a casas de estranho, encontra uma mulher, Sun-hwa (Lee Seung-yeon), que é mal tratada pelo marido e que no seu olhar sofredor pede a Tae-Suk que a salve.
Os dois apaixonam-se e começam a (re)fazer as suas vidas em conjunto ao mesmo tempo que o marido de Sun-hwa a procura.

Este é um filme onde o silêncio impera e, por essa mesma razão, a força das imagens fala por si.
A relação destes dois seres que mal se conhecem e que nem sequer falam um com o outro é quase, se não mesmo, fantasmagórica. As suas trocas de olhares, os seus gestos e as suas atitudes são a linguagem que estas duas pessoas criaram para comunicarem uma com a outra. Porque descobriram que é assim, sem palavras, que o seu amor se consegue expressar.
A segunda metade do filme é bastante diferente da primeira pois vemos a transformação que ocorre em Tae-Suk quando este está na prisão. A "desmaterialização" progressiva do seu corpo para poder amar Sun-hwa é das ideias mais românticas que surgiram no cinema nos últimos tempos.

“Ferro 3/Bin-jip” é um filme de uma beleza tocante e sensível, onde cada imagem nos oferece uma contemplação mágica do amor.

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sexta-feira, novembro 25, 2005

Concerto Coldplay + Goldfrapp – Pav.Atlântico, 23 Novembro 2005

Lógica certa, fórmula Coldplay

São raras as vezes que temos a oportunidade de ver duas grandes bandas num único concerto.
Por sorte, a “Twisted Logic Tour”, que mais uma vez trouxe os consagrados Coldplay ao nosso país, presenteou-nos com uma primeira parte de luxo: os Goldfrapp.

Com um álbum recente para nos apresentar, Alisson Goldfrapp e Will Gregory tiveram a tarefa ingrata de abrir um concerto para outra banda.
Com uma discografia ainda razoavelmente pequena mas cheia de pequenas pérolas, os Goldfrapp já são uma das bandas mais interessantes e originais dos tempos que correm e, por isso mesmo, é algo ingrato terem que fazer a primeira parte de um concerto de quem quer que seja.
Apesar da voz de Alisson estar mais sexy e esplêndida que nunca, dos efeitos das luzes e da energia das músicas, o público não se mostrou muito receptivo uma vez que estava impaciente para ver os Coldplay subir ao palco.
Mesmo assim, os Goldfrapp deram um belíssimo mini-concerto no qual pudemos ouvir maioritariamente músicas do último “Supernature” mas por onde passaram também as mais antigas “Strict Machine”, “Black Cherry” e “Train”.
A despedida coube a “Ooh la la”, a música que parece ter desperte mais interesse na audiência.



Depois de um atraso devido a problemas técnicos, “Square One” deu o pontapé de saída para o regresso dos Coldplay ao recinto que já em 2003 os recebera.
Chris Martin e restante banda estão melhor do que nunca em palco, muito mais soltos e dinâmicos. Aliás, Chris Martin já não se agarra tanto ao piano mas vai percorrendo todo o palco e arredores enquanto canta.
Um enorme ecrã curvo servia de cenário, bem como um fabuloso jogo de luzes.
O público vibrou, cantou e entrou em histeria ao longo de 1h30 de actuação por onde passaram já os clássicos “Yellow”, “In my place”, “The scientist”, “Clocks” e as mais recentes “Talk”, “Speed of Sound” e “Til kingdom come”.
O momento mais alto foi no final, em honras de encore: “Fix you”, maravilhosamente interpretada por Chris Martin mas também pelo público.
Apesar de ter sido um concerto cheio de pontos altos com uma banda cada vez mais profissional e entregue ao público, parece que algo faltou. Talvez a escolha do alinhamento tenha pecado por não incluir mais músicas do primeiro álbum da banda, “Parachutes”.
Foi bom mas o concerto de 2003 foi ainda melhor.

terça-feira, novembro 22, 2005

“Deuce Bigalow: european gigolo” (2005), Mike Bigelow



For the women of Europe...The price of love just got a lot cheaper.

Em 1997 estreou um filme que, em tons de comédia, retratava o dia-a-dia de um gigolo profissional. Em 2005 esse mesmo profissional do sexo volta às salas de cinema no que é, muito provavelmente, o filme mais parvinho do ano.

Deuce Bigalow (Rob Schneider) vai para Amesterdão ao encontro do seu antigo chulo T.J. Hicks (Eddie Griffin). A situação não está fácil para os gigolos uma vez que um assassino em série percorre as ruas da cidade, semeando o terror e o medo entre os profissionais do sexo.
Deuce tem então que voltar à sua velha profissão para tentar limpar o nome do seu amigo que é o suspeito preferido da polícia.

Como seria de esperar, este filme é uma autêntica parvoíce do princípio ao fim.
Lá por estarmos perante uma comédia, isso não implica que as piadas tenham que ser todas escatológicas e de facílima compreensão. Não há uma única piada inteligente neste filme, o que não deixa de ser espantoso.

Rob Schneider está igual a ele mesmo, o que não pode ser nenhum elogio.
Se quisermos ver um ponto positivo neste “Deuce Bigalow: european gigolo”, a parte da belíssima Amesterdão é um mimo (apesar de ser retratada apenas como uma cidade que vive somente do sexo e das drogas leves, o que é mentira).

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segunda-feira, novembro 21, 2005

Concerto Sigur Rós - Coliseu de Lisboa, 20 Novembro 2005



O quebrar do gelo

A noite de ontem, dia 20 de Novembro, por muitos era aguardada com grande expectativa. Para uns era um reencontro com uma banda que há uns anos pisara o mesmo Coliseu, para outros, como eu, era a primeira experiência ao vivo do universo dos Sigur Rós.

A primeira parte do concerto esteve a cargo de quatro raparigas conterrâneas da banda principal, as Amina. Com instrumentos tão originais como caixinhas de músicas, violinos, serrotes, pianos, cordas, copos, etc, a banda foi uma agradável surpresa para quem as ouviu. As suas melodias doces e surpreendentes foram como um aperitivo para a música que se seguiria.

Os Sigur Rós entraram em palco e através das suas sombras ouvimo-los e vimo-los a tocar “Glósóli”, a faixa de abertura do último álbum.
Com jogos de luzes fantásticos que mudavam a cada de música e com um ecrã que passava de tempos a tempos imagens tão enigmáticas como a própria música, os Sigur Rós fizeram com que toda a audiência ficasse rendida às suas melodias densas, idílicas e originais.

A voz do vocalista Jónsi Birgisson é surpreendentemente arrepiante ao vivo e parece entrar nos ouvidos e mexer com todos os nossos sentidos.
Se aquelas músicas já quando ouvidas em cd no conforto das nossa casas têm a capacidade de nos fazer sentir e sonhar, ao vivo as emoções são ainda maiores.

O repertório do concerto centrou-se sobretudo em músicas do recente “Takk” mas o encore foi deixado a cargo da poderosíssima “Untitled #8”, música que encerra o álbum “ ( )” .

O concerto foi tão bom ou melhor do que se esperava. Os Sigur Rós consagraram-se de vez entre nós e o seu profissionalismo e alma sentem-se nas suas músicas que ao vivo ganham uma aura ainda maior e mais misteriosa.
Os Sigur Rós e as Amina (que aliás tocaram com eles) vieram ao palco agradecer duas vezes. Mas somos nós que lhes temos de agradecer por nos darem momentos e músicas tão especiais com a capacidade de nos hipnotizar. Takk.

sexta-feira, novembro 18, 2005

“Arsène Lupin” (2004), Jean-Paul Salomé



Détourner l'attention, voilà la clé. Si tu t'en rappelles, personne ne t'arrêtera jamais.

Baseado nos livros policiais de Maurice Leblanc, “Arsène Lupin” conta-nos a história de um ladrão que usa o seu charme e sedução para por os seus golpes de larápio em prática. Especializado em roubar jóias das aristocratas parisienses, Arsène (Romain Duris) passa a dedicar-se a roubos mais grandiosos após conhecer a misteriosa e perversa condessa Joséphine (Kristin Scott Thomas). Com a ajuda desta, os dois mergulham num mundo de aventuras com o intuito de descobrirem o tesouro perdido dos reis de França.

“Arsène Lupin” é um filme de acção e aventuras, bem ao estilo de um James Bond. Mas enquanto é aceitável um James Bond recorrer a modernices e a efeitos especiais, num filme que é suposto retratar o século XIX, como neste caso, estes apetrechos modernos tornam-se ridículos e despropositados.
Também a história do filme não é muito coerente, parecendo que faltam certas ligações para percebermos melhor determinados pormenores do enredo.

As interpretações de Romain Duris (que parece estar na moda) e Kristin Scott Thomas tornam o filme um bocadinho melhor mas não o conseguem salvar.
Um ponto positivo vai também para os cenários e guarda-roupa que recriam a “Belle Époque” minuciosamente.

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quinta-feira, novembro 17, 2005

“Fligthplan” (2005), Robert Schwentke



Have you seen my daughter?

Num voo entre Berlim e Nova Iorque, Kyle (Jodie Foster) perde o rasto da sua filha e poucas provas restam quanto ao paradeiro da criança. Emocionalmente destabilizada por causa da morte inesperada do marido, Kyle tenta a todo o custa descobrir a sua filha mesmo que para isso passe por louca. Na realidade, toda a tripulação e passageiros do voo afirmam não ter visto a criança e que esta não chegou sequer a embarcar no avião. Mas não é por isso que Kyle desanima e desiste de encontrar a sua filha.

À semelhança de “Panic Room” de David Fincher, protagonizado também por Jodie Foster, neste “Fligthplan” vemos uma mãe a tentar desesperadamente salvar a sua filha num espaço fechado e circunscrito.
Tal como “Red Eye” (deste ano também), o próprio local onde o thriller se desenrola é como que uma personagem que enclausura as restantes.

Em “Fligthplan” temos uma Jodie Foster regressada após três anos de ausência nas lides cinematográficas, ausência essa que não se faz sentir no seu esforçado e conseguido desempenho.
A premissa do filme até é interessante e cria no espectador uma imensa expectativa quanto ao real local onde a criança se encontra (se é que esta existe realmente e não é fruto da imaginação da mãe). Mas de resto aqui encontramos todos os clichés deste género de filmes e o final é demasiado artificial e rebuscado.

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quarta-feira, novembro 16, 2005

“Funeral” (2005), Arcade Fire



O quinteto maravilha

Muito se tem falado e escrito sobre os Arcade Fire, banda formada no Canadá em 2003.
Em várias publicações de música o seu primeiro álbum, “Funeral”, é referido como a grande coqueluche e obra-prima de 2005 (apesar do álbum ser datado de 2004, ano em que saiu nos Estados Unidos e Canadá).
De facto, todos os elogios tecidos ao primeiro disco desta banda não são em nada exagerados. “Funeral” é uma lufada de ar fresco, uma obra trabalhada minuciosamente onde todos os pormenores contam (e ouvem-se).

Chamar os Arcade Fire de banda indie rock é estar a limitar e desprezar todas as outras categorias que neles sentimos haver uma ligação. O melhor é nem sequer os catalogar uma vez que as suas músicas são de tal maneira bem construídas e complexas que podemos escutar influências de variadíssimos géneros musicais. Há ressonâncias de indie rock, de facto, mas também de um rock experimental, de um pós-punk, de um rock clássico ávido de guitarras e de uma fortíssima componente clássica (sentida nos violinos e pianos, por exemplo).

“Funeral” foi buscar o nome ao luto pelo qual a banda passou e a sua música transmite toda a ideia de purificação e exteriorização da dor. Repleto de pequenas preciosidades ora cantadas por Win Butler, ora pela sua esposa Régine Chassagne, “Funeral” é um disco em que cada música tem o seu toque especial e único.

Se “Neighborhood #2 (Laïka)” nos parece surgir com emergência e desespero, já a música seguinte, “Une année sans lumière”, é mais calma e soturna. O ritmo ganha de novo força na frenética “Neighborhood #3 (Power out)”e em “Wake Up” vemos uns Arcade Fire mais rock e seguros que nunca, numa música que muda completamente de estrutura a partir de meio.
Depois surgem-nos “Haiti” e “Backseat”, cantadas no feminino com uma doçura e calma incríveis que em tudo fazem contraste com a voz sofrida e emotiva de Win Butler.
Por último, de referir a melhor música de todas: “Rebellion (Lies)”. Apaixonante e cativante nos seus 5minutos, estamos perante umas das mais belas músicas que tive o prazer de ouvir nos últimos tempos.

Os Arcade Fire são das melhores coisas (ou mesmo a melhor) que este ano de 2005 nos ofereceu, disso não há dúvida nenhuma.

10/10

segunda-feira, novembro 14, 2005

“Elizabethtown” (2005), Cameron Crowe



I don't know a lot about everything, but I do know a lot about the part of everything that I know, which is people.

À semelhança de “Garden State” (um dos melhores filmes do ano, já agora) “Elizabethtown” embarca-nos na viagem que um indivíduo realiza até à sua terra natal por motivos poucos felizes: a morte de um parente próximo, neste caso do pai. É nesta viagem que esta personagem pensa em todo o seu percurso e redescobre os pequenos prazeres da vida que julgava ter perdido. No regresso às raízes, a descoberta da felicidade.

Drew Baylor (Orlando Bloom) é um designer de calçado desportivo que de um momento para o outro é despedido após ter causado um enorme prejuízo na empresa onde trabalha.
Mergulhado numa depressão para a qual só o suicídio lhe parece ser o único remédio, Drew começa a pensar que a sua vida já não faz sentido pois sente-se um fracasso a todos os níveis.
O seu projecto de suicídio não corre como imaginava pois recebe a inesperada notícia da morte do pai, notícia esta que o obriga ir até Elizabethtown (Kentuchy) tratar do funeral.
Na viagem conhece a hospedeira Claire (Kirsten Dunst) que vai mudar por completo a sua maneira de ver e viver a vida.

O que desde logo nos cativa neste filme é que aqui as personagens parecem ser reais e bastante humanas: deprimidas ou alegres, suicidas ou com uma enorme vontade de viver.
Da ideia desesperada do suicídio e do fim sem retorno, Drew muda a sua maneira de ver as coisas após conhecer Claire e após rever a sua família.
Claire ensina-lhe a sentir os prazeres das pequenas coisas da vida como por exemplo em pegar no carro e fazer uma road-trip desenfreada ao som de uma banda sonora escolhida a dedo.
É a partir destes pequenos momentos de felicidade que Drew se anima e se apercebe que um falhanço não tem (nem pode) destruir-lhe por completo a vida.

Porque são pessoas como nós, porque Kirsten Dunst está belíssima e juvenil como nunca, porque a Susan Sarandon faz um hilariante e emotivo discurso no final do filme e porque Cameron Crowe soube captar todas as pequeninas coisas que fazem parte da nossa vida, “Elizabethtown” é um filme para descobrir e sentir.

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domingo, novembro 13, 2005

“In her shoes” (2005), Curtis Hanson



Shoes like this should not be locked up in a closet! You should be living a life of scandal.

Maggie (Cameron Diaz) e Rose (Toni Collette) são duas irmãs que em comum só têm o número de sapatos que calçam. Uma é loira, burra e jeitosa, a outra é uma advogada de sucesso, inteligente e sem grande sorte no amor. A relação das duas azeda quando Maggie rouba o namorado à irmã e esta a expulsa de sua casa. É então que Maggie decide ir ter com a avó desaparecida (Shirley MacLaine) e percebe que a sua vida sem a irmã não faz sentido nenhum.

Do realizador de “8 Mile” e “L.A Confidential”, “In her shoes” parece ser à primeira vista uma comédia levezinha mas no entanto é um filme melodramático sobre a relação destas duas irmãs que, apesar das desavenças superficiais, não conseguem viver uma sem a outra.

Sem grande interesse excepcional a nível de argumento e chatinho à medida que se vai desenrolando, este “In her shoes” não nos fica na memória. Tem umas cenas engraçadas (principalmente as passadas na comunidade da terceira idade) e umas interpretações à medida do filme.

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sexta-feira, novembro 11, 2005

“The constant gardener” (2005), Fernando Meirelles



It's like it's a marriage of convenience and all it produces are dead offspring.

Baseado no romance homónimo de John Le Carré e realizado por Fernando Meirelles (“Cidade de Deus”), “The constant gardener” é um filme sobre o amor, sobre a busca da verdade e sobre o abuso do poder.

No Quénia, a esposa de um diplomata é brutalmente assassinada juntamente com um médico local. Abalado com a inesperada notícia, Justin Quayle (Ralph Fiennes), embarca numa perigosa e alucinante viagem para desvendar os mistérios da morte da sua mulher, Tessa Quayle (Rachel Weisz).

“The constant gardener” é, antes de mais, um thriller político que levanta inúmeras questões sobre o poder. Aqui é retratado o abuso e exploração de uma indústria farmacêutica para com pessoas sem meios e sem condições que nela confiam e julgam ver alguma esperança.
É esta injustiça social e humana que Tessa Quayle investiga e deseja desmascarar. Mas a “perigosa” activista é estrategicamente aniquilada com o objectivo das suas investigações permaneceram em puro segredo.
Quando a esposa morre, Justin além de querer limpar o nome da sua mulher (dita como infiel) e descobrir quem a matou, pretende antes de tudo continuar o trabalho dela e revelar ao mundo as suas espantosas e chocantes descobertas.

Todo este enredo de thriller pode ser visto como um pretexto da história de amor que está subjacente no filme. Em variados flashbacks vamos percebendo a história de amor entre estes dois seres tão díspares (ele tímido e pacato, ela exuberante e expansiva).
Ao continuar o trabalho que a sua mulher deixou inacabado, Justin acaba por provar o seu grande amor por Tessa.

Não posso deixar de referir a espantosa interpretação de um dos melhores actores da actualidade, Ralph Fiennes, e a realização crua do brasileiro Fernando Meirelles, vencedor de um Óscar para o seu anterior filme “Cidade de Deus”.

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sábado, novembro 05, 2005

European Music Awards em Portugal



Chuva de estrelas

Esta quinta-feira (dia 3 de Novembro) foram atribuídos em Portugal pela primeira vez os prémios Europeus da MTV.
Como seria de esperar dum espectáculo desta envergadura e com milhões de espectadores de todo o mundo, não faltou o glamour e a “chuva de estrelas” habituais (mesmo que em doses mais contidas do habitual).

A abertura da cerimónia esteve a cargo da “rock queen” (como viria a ser chamada mais tarde por Bob Geldof) Madonna que nos apresentou em primeira-mão o seu novo single “Hung Up”. Saindo duma gigantesca bola de espelhos com os seus bailarinos, Madonna aqueceu desde logo o pavilhão que gritava a plenos pulmões a já conhecida letra da nova música. Vestida de maillot, casaco e botas roxas bem ao estilo dos anos 70, Madonna dançou e cantou de forma enérgica, metendo inveja a qualquer sua pseudo-seguidora.

A partir desta actuação de luxo, os prémios foram perdendo o interesse.
As piadas de Borat não tinham na realidade piada nenhuma, os vencedores não foram sempre justos (como seria de esperar) e as actuações em geral não cativaram por aí além.
De realçar a original prestação dos Gorillaz, a banda virtual que “actuou” segundo a forma de hologramas, e dos Foo Fighters com um excelente jogo de luzes e lasers (que só quem lá esteve viu todo o impacto pois na TV não teve nem metade do efeito).

Com total injustiça bandas como os Kaiser Chiefs, Franz Ferdinand ou Goldfrapp foram totalmente ignoradas, mantendo este espírito de música plástica virada para as massas (juvenis na maioria) que a MTV continua a impor.
Também é importante referir que nenhuma banda portuguesa foi convidada a actuar na cerimónia...

Aqui fica a lista dos vencedores da noite:

Best Album: Green Day "American Idiot"
Best Pop: Black Eyed Peas
Best Hip Hop: Snoop Dogg
Best Rock: Green Day
Best Alternative: System Of A Down
Best R&B: Alicia Keys
Best Video: Chemical Brothers "Believe"
Best Female: Shakira
Best Male: Robbie Williams
Best New Act: James Blunt
Best Song: Coldplay "Speed Of Sound"
Best Portuguese: The Gift
Best Group: Gorillaz

segunda-feira, outubro 31, 2005

“The understanding” (2005), Röyksopp



Música gelada

Quando o duo norueguês se estreou em 2001 com o álbum “Melody A.M” muitos ficaram logo fãs e com inúmeras expectativas quanto ao futuro destes dois rapazes que vêm do frio. A abertura do concerto de Moby no Pavilhão Atlântico em 2002 veio só acabar por confirmar a qualidade musical e entrega efusiva que Brundtland e Berge nos dedicam, a nós público.

Os ambientes doces e downbeat polvilhados numa electrónica tanto eufórica como intimista da música dos Röyksopp de “Melody A.M” têm neste “The understanding” uma carga menos interessante.
Na verdade, o duo criou um disco pouco cativante que nos passa ao lado em variados momentos (infelizmente em grande parte deles).

O desinteresse começa logo na primeira faixa, “Triumphant”, que de triunfante não tem nada, muito pelo contrário.
Todo este álbum não tem a originalidade e despreocupação do primeiro, despreocupação essa que soou tão bem por nos parecer uma coisa nova e espontânea.
“The understanding” parece ser um disco mais pensado e, portanto, menos emotivo. As músicas têm quase todas um carácter automático e desprovido de autenticidade e as melodias em geral chegam a soar a um disco-sound do pior que se faz por aí.

No entanto, salvam-se alguns temas como “Follow my ruin”, “What else is there?”, “Someone like me” e “Dead to the world”.

3/10

domingo, outubro 30, 2005

“O crime do Padre Amaro” (2005), Carlos Coelho da Silva



O crime ao cinema português

É triste quando vamos ao cinema ver um filme português, apoiar o que é nosso e saímos de lá com a completa sensação que fomos enganados. É isto que nos acontece após o visionamento deste execrável filme.

Em 2001 o mexicano Carlos Carrera adaptou ao cinema um dos nossos mais interessantes romances de Eça de Queirós. Num filme que levantou inúmeras polémicas com a Igreja Católica, Carrera conseguiu absorver e transpor para o ecrã toda a essência que sentimos ao ler o romance do Eça. As personagens, os ambientes e os gestos.
Infelizmente (e ironicamente) o português Carlos Coelho da Silva não percebeu nada do que Eça escreveu.
Com o intuito de fazer uma versão moderna do romance entre o Padre Amaro (Jorge Corrula) e Amélia (Soraia Chaves), o realizador português subverteu e adulterou a história. E da pior forma possível.

Tudo começa quando o Padre Amaro vai substituir outro pároco numa paróquia de um bairro problemático em Lisboa. Amaro instala-se numa casa habitada por uma jovem sensual e fogosa que, inevitavelmente, o acaba por seduzir e o leva a cometer o dito “pecado” do título.

Com muito hip-hop a servir de banda sonora, pancaria, sexo e clichés em tudo o que é sítio (os cabeleireiros gays, só para dar um exemplo), “O crime do Padre Amaro” é uma inclassificável adaptação do romance de Eça. Porque da história original nada restou: a doce e inocente Amélia é aqui uma mulher sensual e provocante (com uma péssima interpretação da inexpressiva Soraia Chaves), o final emotivo foi alterado para um final ridículo e as personagens secundárias que enriquecem o enredo original foram aqui trocadas por uns secundários sem nexo nenhum que muitas vezes (na maioria) não entendemos o que estão lá a fazer. E além disto tudo estão enfiadas a martelo umas histórias paralelas que em nada fazem crescer a conveniência e valor do filme.

“O crime do Padre Amaro” é um filme que custa a ver tal o seu mísero interesse. Nele não encontro um único ponto positivo a apontar e por isso é inevitável levar com um zero.
Este é já um dos sérios candidatos a pior filme do ano. Amén.

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sexta-feira, outubro 28, 2005

O regresso de Madonna



Estreou finalmente o tão aguardado novo videoclip de Madonna. Em “Hung Up” (realizado por Johan Renck, que já anteriormente tinha trabalhado com Madonna no fantástico vídeo para “Nothing really matters”) a diva pop presta homenagem à dança e à iconografia dos anos 70.
Mais bela e em melhor forma que nunca, Madonna regressa em toda a força.
Para ver e ouvir

  • aqui
  • quarta-feira, outubro 26, 2005

    “Les poupées russes” (2005), Cédric Kaplisch



    A ternura dos 30

    Depois das aventuras e desventuras como estudante de Erasmus em Barcelona, Xavier (Romain Duris), já adulto e a viver na sua Paris natal, realiza o seu sonho e torna-se escritor.
    É aqui que a trama se começa a desenrolar, com os problemas românticos de Xavier que procura encontrar a mulher ideal uma vez que já chegou aos 30 anos.
    Nesta sequela de “L´auberge espagnole”, reencontramos as mesmas personagens que nos deliciaram com as suas peripécias estudantis no tempo em que eram estudantes universitários.

    Xavier é um escritor falhado que para sobreviver escreve argumentos para séries cor-de-rosa e biografias de gente sem qualquer interesse.
    No campo amoroso não tem mais sorte pois vive relações momentâneas e vai coleccionando namoradas na ânsia desesperada de encontrar a mulher ideal.
    Passado entre Paris, Londres e São Petersburgo, “Les poupées russes” é um filme que nos fala da busca do amor e da transição de um jovem para a idade adulta e tudo o que daí advém.

    Se neste novo filme de Cédric Kaplisch não encontramos a espontaneidade, originalidade e frescura do anterior, o divertimento continua a estar lá.
    É um filme muito agradável, com uma montagem fora do normal (com muitos flashbacks à mistura) e com um actor em franca ascensão depois da excepcional interpretação em “De battre mom coeur s´est arrêté”.

    * * *

    sábado, outubro 22, 2005

    “The back room” (2005), Editors



    O quarto das traseiras do rock alternativo

    Banda formada há relativamente pouco tempo (2003), os Editors lançaram este Verão o seu primeiro álbum que apelidaram com o nome “The back room”.

    Com nítidas e assombrosas semelhanças aos Interpol (tanto a nível de voz como das próprias canções), os Editors praticam um rock alternativo que se ouve com bastante agrado mas que também não deslumbra ninguém.
    As músicas são eficazes e com as medidas exactas que misturam um revivalismo pós-punk com um rock alternativo moderno, modelo tão na moda nos dias que correm.

    “The back room” é um álbum que satisfaz (e bem) o ouvinte mas que também não é muito diferente do que por aí se faz.
    É um álbum dinâmico que abre com uma música bastante acelerada (“Lights”) para logo a seguir passar para outra que está ao mesmo nível mas com um especial trabalho a nível de guitarras (“Munich”).
    Mais lá para a frente encontramos a melhor é mais bem construída música, “Bullets”, que serviu como ponto de avanço ao álbum. É um single certeiro com todas a características para ser um sucesso estrondoso.
    “Camera” é uma música mais calma e introspectiva com uma das mais belas letras do álbum: “Look at us through the lens of a camera/Does it remove all of our pain/If we run, they'll look in the back room/Where we hide all of our secrets”.

    “The back room” é, dentro do género, um disco cativante e por vezes um pouco obscuro e enigmático (no melhor sentido dos termos).
    Os fãs dos Interpol e/ou Bloc Party vão gostar deste primeiro trabalho dos Editors, isso garanto.

    7/10

    terça-feira, outubro 18, 2005

    “Cronicas” (2005), Sebastián Cordero



    If it's on TV, it must be the truth.

    Uma equipa de jornalistas de Miami viaja até à vila de Babahoyo, no Equador, para fazer uma grande reportagem sobre um violador e assassino de crianças que mate em série.
    Decidido a fazer a reportagem da sua vida e a ter um momento de glória, o jornalista Manolo Bonilla (Jonh Leguizamo) tenta descobrir o assassino deste caso que assusta a pobre população da vila.

    “Cronicas” levanta uma série de questões éticas: até que ponto podem os jornalistas interferir em investigações policiais? Podem estes assumir o comando nestas investigações e fazer o papel que muitas vezes a polícia não realiza?
    E será que tudo o que vemos na televisão é uma imagem da realidade?
    Muitas vezes o que os media nos transmitem não é a pura realidade mas sim aquilo que eles querem que os espectadores vejam e o que acham que trará maiores audiências.
    É este o principal objecto de estudo deste filme de Sebastián Cordero. Muito para além do suspense e de tentarmos descobrir quem é o verdadeiro assassino (tarefa que até não é muito complicada), “Cronicas” leva-nos a reflectir sobre o verdadeiro papel dos media na nossa sociedade e se por eles nos devemos “levar” com tanta facilidade.

    Um filme interessante que continua a demonstrar a grande força que o cinema da América do Sul está a ter cada vez mais.

    * * *

    domingo, outubro 16, 2005

    “Supernature” (2005), Goldfrapp



    OOH LA LA

    Passados dois anos desde a edição de “Black Cherry”, os Goldfrapp voltam à carga com um álbum bastante dançável e a transbordar glam-rock por todos os lados. Assim é “Supernature”.

    Se o primeiro álbum da banda (“Felt Mountain”) consistia em ambientes celestiais e puros, já o segundo (“Black Cherry”) era assumidamente mais perverso e sensual. Com estes dois extremos é difícil criar uma terceira categoria para o novo álbum pois o céu e a terra já tinham sido musicalmente explorados. Talvez por essa razão “Supernature” seja um álbum pouco original e que em muitos pontos coincide com “Black Cherry”.

    Em termos gerais “Supernature” é um álbum que se ouve bem, com músicas de um electro-pop bastante dançável e cativante. Mas quando já vamos a meio do álbum as músicas começam a ser cansativas pois, à excepção de “Let it take you” e “Time out from the world”, todas as outras têm uma batida muito acelerada que acaba por fartar.
    “Black Cherry”, que também explorou esta vertente mais electrónica repleta de sintetizadores, conseguiu mediar melhor a dosagem deste ritmo frenético com músicas mais calmas e, por isso, mostrou ser um álbum superior.

    “Supernature”, apesar de não ser original, tem temas que se devem ouvir com especial atenção: o primeiro single completamente viciante “Ooh la la”, “Ride a white horse”, “Slide in”,“Koko” e “Number 1”.

    6/10

    sábado, outubro 15, 2005

    “Last days” (2005), Gus Van Sant



    O anti-herói

    “Last days” fecha a trilogia composta por “Gerry” e “Elephant”, todos filmes do cineasta Gus Van Sant que tratam do tema da morte de adolescentes.

    O filme retrata os últimos dias de um músico à beira do desespero, sem qualquer visão de um futuro promissor, perturbado por uns fantasmas interiores que o consomem dia após dia.
    Blake (Michael Pitt) é uma estrela rock que envolta em problemas relacionados com a droga, falta de inspiração criativa e uma relação distante com a filha, começa a definhar num corpo já frágil e cheio de feridas internas.
    A morte é o tema fulcral de “Last days” e sabemos à partida que Blake não vai escapar dela: o filme procura mostrar-nos o encontro de um homem com a sua morte, a única escapadela possível para um ser que foge da própria vida.

    Há alguns pontos essenciais que gostaria de focar nesta análise a “Last days”.
    Em primeiro lugar, a excelente realização: tal como no anterior “Elephant”, Gus Van Sant percorre neste filme a personagem central e as secundárias com a sua câmara, mostrando-nos diferentes pontos de vista. Esta singularidade original resulta extremamente bem pois enriquece bastante o filme em termos de ritmo.
    Outro ponto que me parece interessante é o papel da floresta. Misteriosa e purificante, é o lugar escolhido por Blake para divagar e refugiar-se do mundo em que vive. É no conforto da natureza que o músico parece reconciliar-se com o pouco de vida que lhe resta.
    Impossível é omitir a inspiração clara e assumida de Gus Van Sant em Kurt Cobain, o líder do mítico grupo Nirvana, fundador do grunge.

    Michael Pitt encarna esta representação de Kurt Cobain na perfeição tanto a nível físico (as semelhanças entre ambos são bastante visíveis) como a nível interpretativo. Apesar das poucas falas, Pitt é exímio ao interpretar este jovem inadaptado, ressacado e moribundo.

    “Last days” é um filme difícil de assimilar mas belíssimo no seu minimalismo.

    * * * *

    quinta-feira, outubro 13, 2005

    “Alice” (2005), Marco Martins



    Desesperadamente à procura de Alice

    Alice desapareceu há 193 dias. Desde aí, o seu pai Mário (Nuno Lopes) tem percorrido desesperadamente as ruas de Lisboa para ver se encontra algum rasto da filha.
    Todos os dias Mário percorre o mesmo caminho e os mesmos passos que efectuou no dia em que a sua filha desapareceu, na esperança vaga de encontrar pistas que o levem até Alice.
    A sua obsessão e desespero incitam-no a montar câmaras de filmar em vários pontos da cidade com o intuito de encontrar o rosto da filha no meio da multidão anónima e alienada.

    Marco Martins filma Lisboa duma maneira notável, uma cidade inóspita e fria por onde as pessoas deambulam indiferentes a tudo. No meio da cidade cinzenta vemos um homem, Mário, que anda ao contrário de todos os outros.
    Este homem, aterrado pela ausência da filha desaparecida, vagueia também ele perdido por Lisboa na esperança já quase perdida de encontrar o que lhe pertence.
    “Alice” é um drama muito humano e trágico, não só no conteúdo mas na forma também. Se o tema dum ente querido por si só já é aterrador, a forma como o filme se apresenta também nos transmite esse clima sombrio e tristemente solitário.

    Nuno Lopes tem aqui uma prestação notável, dum pai em pleno desespero e angústia que carrega nas costas uma perda insubstituível.
    Também de salientar a belíssima banda sonora de Bernardo Sasseti.

    “Alice”, como já referi, é um filme tristemente belo que nos dá orgulho de irmos ao cinema ver filmes nacionais.
    Mas se todos estes aspectos são positivos, temos também partes do filme um pouco entediantes e com pouquíssimos diálogos (que enriqueceriam o filme, na minha opinião).

    * * *

    sábado, outubro 08, 2005

    “She hate me” (2005), Spike Lee



    Jack Armstrong (Anthony Mackie) é um executivo que trabalha numa empresa farmacêutica mas que é despedido após denunciar a empresa de uns negócios ilícitos.
    Quando se vê desempregado e necessitando de arranjar dinheiro, aceita a proposta da sua ex-namorada Fátima (Kerry Washington): fecundar lésbicas que lhe oferecem grandes quantias de dinheiro.

    Depois duma obra como “25th Hour”, nem parece que estamos na presença de um filme do mesmo realizador.
    Na verdade, este “She hate me” promete muito mas cumpre pouco.
    O que estraga o filme, no meu parecer, é que nunca chegamos a perceber o que Spike Lee pretendeu fazer.
    O filme conjuga uma série de assuntos actuais mas que nada têm a ver uns com os outros: nele encontramos as temáticas da homossexualidade, máfia, corrupção, racismo, etc.
    Spike Lee procurou falar abertamente sobre todos estes assuntos mas parece que se esqueceu de criar uma história menos incongruente e mais objectiva. Os temas parecem que não encaixam todos na mesma história e por isso temos a sensação que falta um elo unificador em todo o filme.

    O que salva este “She hate me”, de certa forma, é uma das últimas cenas (a cena do beijo a três) que contém mais emoção que todo o restante filme.

    * *

    sexta-feira, outubro 07, 2005

    “X&Y” (2005), Coldplay



    A banda prodígio

    Depois de dois álbuns muito bem aceites pela crítica e principalmente pelo público, os Coldplay já se tornaram uma das bandas mais conhecidas e queridas do mundo.
    O quarteto inglês provou que as melodias simpáticas que juntam o brit-pop com um rock suave mais alternativo são a chave para o sucesso instantâneo.
    Ao terceiro álbum de originais, os Coldplay voltam a dizer-nos que ainda fazem música boa e que não ficaram a descansar à sombra dos seus dois anteriores sucessos.

    “X&Y” é um disco claramente mais ambicioso que “Parachutes” mas que segue o já grande e mais mediático “A rush of blood to the head”.
    Apesar de ter um cheirinho de anos 80, o brit-pop continua a ser a maior influência desta banda que se tornou, por mérito próprio, uma das maiores referências do género.

    Tal como os anteriores trabalhos, “X&Y” centra-se sobretudo em músicas de cariz mais intimista e introspectivo.
    As músicas são todas harmoniosas e melodiosas, ou não fossem os Coldplay a banda por excelência a criar músicas agradáveis que transmitem as emoções de quem as escreveu.

    Apesar de não ser totalmente original uma vez que se encontra bastante próximo dos trabalhos anteriores, “X&Y” é um álbum muito bom (excluindo o primeiro single “Speed of sound" que se tornou enjoativo de tão ouvido). Soa a Coldplay do princípio ao fim e isso, só pode ser positivo.

    A ouvir com especial atenção: “Square One”; “What if”; “White shadows”, “Fix you”; ”Low”; “Twisted logic”; e a melhor de todas: “Til kingdom come”.

    8/10

    quinta-feira, outubro 06, 2005

    “La demoiselle d'honneur” (2005), Claude Chabrol



    Até que a morte os separe

    Claude Chabrol, cineasta da chamada “Nouvelle Vague” do cinema francês, apresenta-nos um novo filme que, tal como o seu anterior “La cérémonie”, é inspirado num romance de Ruth Rendell.

    “La demoiselle d'honneur” conta-nos a história de Philippe (Benôit Magimel) que no casamento da irmã conhece uma das damas de honor, Senta (Laura Smet), pela qual se apaixona.
    Senta, jovem misteriosa, faz com que o até então razoável Philippe perca a noção do que é considerado aceitável e normal. Com ideias bastante romanescas e obsessivas do que é o amor, ela defende que a prova máxima de amor é matar outra pessoa.
    É com estas ideias que Philippe acaba por perder a razão e sucumbir à sua paixão que declara como eterna.

    Chabrol procurou criar um filme que reúne o thriller, mistério e romance e o resultado foi bom. Dissecando uma família burguesa igual a tantas outras, Chabrol focou sobretudo a sua câmara num romance com contornos pouco convencionais e bastante fatalistas.
    É a partir do momento em que Philippe e Senta se apaixonam e começam a sua relação extremista que o filme começa a ganhar intensidade e interesse.

    O par de actores está bastante bem, principalmente a estreante Laura Smet que cria uma Senta como o argumento requer: misteriosa e perturbada.

    * * *

    segunda-feira, outubro 03, 2005

    “Get behind me Satan” (2005), The White Stripes



    Venha o diabo e oiça

    Depois do magnífico álbum “Elephant”, considerado por diversas revistas musicais como o melhor álbum de 2003, os White Stripes voltam às lides discográficas com “Get behind me Satan”, um pouco distante do seu antecessor em termos de sonoridade, principalmente por ser em grande parte acústico.

    Este duo original que pratica um rock bastante minimalista (apenas guitarra e bateria em quase todas as músicas) e que usa apenas vermelho, branco e preto em tudo, procurou inspiração para este novo trabalho na música tradicional americana das décadas de 30 e 40 e na música folk.

    “Get behind me Satan” é um álbum bastante eclético onde podemos ouvir músicas rock com riffs bastante viciantes (“Blue Orchid”), músicas mais exóticas com matracas e xilofones (“The Nurse”), músicas românticas sem cair na lamechice (“Forever for her,is over for me”), músicas com inspiração nítida no século passado (“Little ghost”, “As ungly as I seem”), músicas com tendências de blues (“Instinct blues”) e músicas mais vanguardistas (“Red Rain”).
    Apesar desta mistura de tendências e inspirações, “Get behind me Satan” não deixa de ter o cunho pessoal dos White Stripes e do seu rock pouco limado e bastante minimalista.
    Não é tão bom como o antecessor “Elephant” mas vale bem a pena ouvir este “Get behind me Satan”.

    A ouvir com especial atenção: “Blue Orchid”; “My doorbell”; “Forever for her (is over for me)”; “The denial twist”; “Take take take”; “Red rain”.

    7/10

    quarta-feira, setembro 28, 2005

    31 Songs

    Desafiada por um amigo que por sua vez se inspirou no livro “31 Songs” de Nick Hornby, fiz uma lista das minhas 31 canções preferidas/especiais. Aqui fica a lista:

    • Venus - Air
    • Lullabye – The Cure
    • Untitled #3 – Sigur Rós
    • Some Velvet Morning – Primal Sream
    • Roads – Portishead
    • Your Woman – White Town
    • Secret - Madonna
    • Climbing up the walls - Radiohead
    • Poems - Tricky
    • Maps – Yeah Yeah Yeahs
    • Tender - Blur
    • 74, 75 – The Connells
    • She´s your cocaine – Tori Amos
    • I wanna hold your hands – The Beatles
    • Little girl eyes – Lenny Kravitz
    • Eu não sei dizer – Silence 4
    • Signs of love - Moby
    • Blue Monday – New Order
    • 40´ - Franz Ferdinand
    • Spies - Coldplay
    • Rebellion (Lies) – The Arcade Fire
    • Mad about you - Hooverphonic
    • I just don´t know what to do with myself – The White Stripes
    • Is this it – The Strokes
    • Do you think I´m sexy? – Rod Steward
    • Loser - Beck
    • Group 4 – Massive Attack
    • Music – The Gift
    • Special Needs - Placebo
    • Fuck the pain away - Peaches
    • PJ Harvey – The Dancer

    terça-feira, setembro 27, 2005

    “Inside deep throat” (2005), Fenton Bailey/Randy Barbato



    Quando estreou em 1972, nada fazia crer que se tornasse num dos filmes mais rentáveis da história do cinema. Custando apenas 25 mil dólares, “Deep Throat” rendeu mais de 600 milhões, sendo, muito provavelmente, o filme pornográfico mais visto até hoje.
    Todo o escândalo que envolveu o filme (incluindo o facto de ter sido banido de 25 estados) foi o motivo para este se ter tornado mundialmente conhecido e visto.

    “Inside deep throat” é um documentário sobre o filme que criou um novo género, o porno-chic, e que levou a classe média e alta ao cinema para ver um filme pornográfico.
    Mais do que uma abordagem ao sucesso de “Deep throat”, este documentário mostra as consequências sociológicas, ideológicas e políticas que a América sofreu após a estreia do filme. Uma América prestes a ter a sua revolução sexual graças às questões levantadas por um filme “indecente” para uns e “interessante” para outros.

    O documentário incide sobretudo nas três figuras principais do filme e nas suas intenções: Gerard Damiano (o realizador), Linda Lovelace (a actriz) e Harry Reems (o actor). Todos eles sofreram de alguma maneira pelo facto de terem participado num filme tão controverso e o documentário mostra-nos o que têm eles a dizer sobre o fenómeno “Deep throat”.

    Este é um documentário bastante interessante que procura retratar tudo o que esteve envolvido no escândalo, tanto as pessoas que estiveram envolvidas no filme, como as que o criticaram e viram.

    * * *

    domingo, setembro 25, 2005

    “Takk…” (2005), Sigur Rós



    Viagem pelo mundo dos sonhos

    Após um disco sem nome e numa língua inventada pela banda e utilizada como um instrumento, os Sigur Rós editam um dos álbuns mais esperados do ano. A curiosidade era muita para saber o que o grupo islandês nos daria a ouvir desta vez. Como já era de esperar, “Takk…” é um álbum brilhante de uma banda que se tem afirmado e destacado no panorama musical internacional.

    Depois de nos mostrarem o lado mais obscuro, sombrio e denso da sua música em “ ( )”, os Sigur Rós voltam às melodias idílicas e celestiais que remetem para o seu álbum de 2000, “Ágætis Byrjun”.
    É impossível deixarmos de pensar nas paisagens geladas da Islândia quando ouvimos a música dos Sigur-Rós. E apesar de não entendermos as letras (que são em islandês e em “hopelandic”), há qualquer coisa de universal nas palavras cantadas.
    “Takk…” é um álbum transparente e puro que, tal como acontece nos trabalhos anteriores, foge dos conceitos normais e usuais ao ter músicas bastante longas (a maior com 10m26).

    As músicas de “Takk…” são todas elas magistralmente elaboradas e capazes de nos surpreender: o que começa com uma melodia suave e quase infantil acaba por se revelar numa verdadeira explosão de energia rock (caso gritante no single “Glósóli”, por exemplo).
    De cariz libertador, que nos faz sonhar e sentir, “Takk…” é um magnífico e esplendoroso álbum onde somos contemplados com músicas e ambientes tão originais como só os Sigur Rós sabem criar.
    É impossível catalogar a música deste grupo e é aí mesmo que se encontra toda a essência e magia das suas composições.

    “Takk…” é uma obra suprema e, como tal, todas as músicas são excepcionais. Contudo destaco “Glósóli”, “Hoppíppola”, “Saeglopur”, “Milanó”, “Svo Hljótt”.

    10/10

    sexta-feira, setembro 23, 2005

    “Cinderella Man” (2005), Ron Howard



    I have to believe… that when things are bad… I can change them.

    Esta é a história de Jim Braddock (Russell Crowe), pugilista norte-americano que viveu durante os anos conturbados da Grande Depressão.
    Depois de perder inúmeros combates, Jim é forçado a abandonar os ringues e aceita outros trabalhos para poder sustentar a sua família.
    No entanto, Jim tem uma oportunidade de voltar a combater e mostra a todos que é um verdadeiro vencedor.

    Jim Braddock personifica o sonho americano ao conseguir conquistar o que queria por amor à sua família. Por essa razão é visto como um herói nos anos 30 e toda a gente o vê como um exemplo a seguir.

    “Cinderalla Man” tem uma história bem conhecida e já muitas vezes retratada em outros filmes: o triunfo de uma personalidade mesmo quando tudo nos fazia crer que nada iriam atingir. Mas mesmo assim é impossível ficarmos indiferentes à história de Jim Braddock e à sua comovente dedicação à família (talvez exagerada por se tratar de um filme de Hollywood…) e à perseverança de lutar pelo seu sonho.

    Russel Crowe tem uma interpretação irrepreensível e Paul Giamatti (que nunca imaginei ver como manager de boxe) não lhe fica nada atrás.

    * * *

    quarta-feira, setembro 21, 2005

    “The Bravery” (2005), The Bravery



    Os bravos revivalistas

    Formado em 2003, este quinteto nova-iorquino só em 2005 é que editou o seu primeiro álbum, “The Bravery”.
    Seguindo as tendências da moda, a banda foi buscar inspiração ao punk e rock dos anos 70 e 80.
    Comparados inúmeras vezes aos The Killers, os The Bravery têm um som mais “sujo” e menos arranjadinho que, tal como se fazia há vinte anos atrás, utiliza imensos sintetizadores. Podemos também ver inúmeras parecenças com o som de garagem dos The Strokes.

    O revivalismo das músicas faz-se sentir não só ao nível da sonoridade mas também na própria maneira de Sam Endicott (vocalista e produtor da banda) cantar, que vai inúmeras vezes buscar o timbre e a expressividade de Robert Smith (especialmente em “Tyrant” e “Unconditional”).

    As onze músicas que compõem “The Bravery” não passam nunca de medianas, à excepção do single “An honest mistake”, “Tyrant” e “Public Service Announcement” que são sem dúvida boas.
    Uma estreia sem grande força apesar das músicas serem, na generalidade, enérgicas e frenéticas. Mas vale a pena dar uma espreitadela ao álbum deste quinteto, nem que seja só uma vez.

    5/10

    terça-feira, setembro 20, 2005

    “Red eye” (2005), Wes Craven



    Sometimes bad things happen to good people.

    Lisa (Rachel McAdams), uma jovem gerente de um hotel de luxo, vê-se obrigada a viajar para Dallas uma vez que a sua avó faleceu. No regresso, o seu medo e pânico de andar de avião parecem desaparecer quando descobre que o passageiro que viaja a seu lado, Jack Rippner (Cillian Murphy), é um assassino profissional encarregue de matar um importante político que se encontra hospedado no hotel onde Lisa trabalha.
    Jack quer que Lisa colabore na sua missão e, para a convencer, ameaça matar o seu pai.
    Encurralada, Lisa vai ter que tomar uma decisão.

    Wes Craven, realizador da famosa trilogia de terror adolescente “Scream”, volta a fazer um filme que muito fica a dever à originalidade.
    Se “Red Eye” nos parece minimamente interessante e empolgante até às cenas passadas dentro do avião (o próprio espaço é bem utilizado como uma personagem sufocante e claustrofóbica) a partir daí toda a emoção e suspense desaparecem.
    “Red eye” é um conjunto de lugares comuns e toda a matéria que já foi utilizada neste tipo de thrillers está lá. De novo só mesmo o elenco que até é bastante convincente.

    *

    “Odyssey” (2005), Fischerspooner



    Odisseia electrónica

    Decorria o ano de 1998 quando o músico Warren Fischer e o actor de teatro experimental Casey Spooner se juntaram para criar uma banda em Nova Iorque.
    Com os seus dois apelidos, a banda ganhou um nome: Fischerspooner.
    Concentrados em fazer música e concertos com um conceito diferente (que alia multimédia e artes visuais, guarda-roupa original e cenas de dança), a banda lançou este ano o seu segundo trabalho, “Odyssey”, no qual colaboram nomes como Linda Perry e o produtor francês Mirwais (conhecido por trabalhar com Madonna desde 2000).

    Os dois membros da banda consideram este álbum “orgânico e rock”, não deixando de parte as suas raízes da música electrónica e de dança. É antes uma fusão de estilos que se juntam para criar melodias bem vivas e cativantes.
    “Odyssey”, apesar das batidas electrónicas e do ambiente festivo da sonoridade, é um disco para se ouvir e não apenas para dançar.

    “Let it go”, “Cloud”, “Never win” (com nítida inspiração nos Kraftwerk), “A kick in the teeth”, “Everything to gain”e “We need a war” são as melhores músicas do álbum, ou seja, metade do cd é bom, muito bom mesmo. São músicas distintas umas das outras mas estão todas excelentemente bem construídas e apelativas aos nossos ouvidos.
    A partir da sexta música “Odyssey” quebra o ritmo e interesse. Tal como tantos outros álbuns, é a partir da segunda metade que o disco começa a ser entediante e monótono. O que é uma pena já que as primeiras músicas faziam prever um excitante regresso dos Fischerspooner.


    7/10

    segunda-feira, setembro 19, 2005

    Madonna - antevisão de "Confessions on a dancefloor"

    Madonna quis oferecer aos fãs uma antevisão do seu próximo cd a editar em Novembro. O site oficial revelou esta semana a capa do tão esperado disco de dança, “Confessions on a dancefloor”.
    Arrisco-me a dizer que é a sua melhor capa e grafismo de sempre. Mas as imagens falam por si.

    sábado, setembro 17, 2005

    “De battre mon couer s´est arrêté” (2005), Jacques Audiard



    Jacques Audiard volta a filmar o quotidiano realista e duro focado numa só personagem, como já tinha feito no seu anterior trabalho “Sur mes lèvres”.

    “De battre mon couer s´est arrêté” centra-se na personagem de Tom (Romain Duris, o “herói” do filme “Residência Espanhola”), um agente imobiliário que, tal como o pai, se dedica também ao lado mais obscuro e criminoso da profissão.
    Um dia, Tom volta a reencontrar-se com o seu velho sonho de ser pianista, herança deixada pela sua falecida mãe. Assim, pretende deixar o mundo corrupto em que está envolvido para se dedicar ao seu verdadeiro sonho e vocação: ser pianista profissional. Sem a ajuda ou aceitação dos seus amigos e pai, Tom suporta as mais variadas situações só para poder chegar um pouco mais perto da sua realização pessoal.

    A música é, neste filme, uma forma de comunicação entre Tom e a sua professora de piano e uma forma de exorcizar as angústias e raivas do quotidiano pouco gratificador em que vive.
    Só quando está em frente ao piano é que Tom consegue sentir-se realmente vivo e feliz.

    Jacques Audiard segue com a sua câmara a vida confusa de Tom que se volta a descobrir e ganha força e entusiasmo nessa mesma redescoberta.
    O filme tem um tom bastante cru e realista, facto que só o engrandece.
    Contudo parecem haver cenas/situações que nada trazem ao filme (como a relação de Tom com a mulher de um dos seus colegas ou a cena em que Tom conhece a namorada do pai).

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    quinta-feira, setembro 15, 2005

    “My Summer of love” (2005), Pawel Pawlikowski



    Apparently I’m a bad influence on people.

    Em Yorkshire, Inglaterra, duas adolescentes conhecem-se e envolvem-se numa relação obsessiva de amizade e amor.
    Mona (Nathalie Press) é uma rapariga pobre que vive com o irmão, dono de um antigo bar agora reconvertido em igreja.
    Tamsin (Emily Blunt), rica, misteriosa e dramática trava amizade com Mona e convida-a para ir a sua casa e para passarem os últimos dias de Verão juntas.
    A relação das duas começa então e intensificar-se e a tornar-se mais sólida uma vez que Mona procura algum conforto nos braços de Tamsin e esta procura apenas divertimento e alguém que acredite no seu espírito perverso e maléfico.
    A ingenuidade e entrega de Mona são comoventes quando toda a perversidade que assalta a personalidade de Tamsin se começa a evidenciar. O ar sedutor desta acaba por se revelar diabólico quando percebemos o que a rapariga fez só para abalar um pouco a monotonia que é a sua vida.

    O tom sinistro que o filme acaba por tomar não convence. Somos primeiro embalados pela paisagem e pelas cores quentes de Verão e, no fim, uma grande reviravolta leva-nos para os temas da morte, religião e espiritismo.
    “My Summer of love” é capaz de agradar a muitos (ganhou o prémio de Melhor Filme Britânico nos BAFTA do ano passado) mas também não será assim tão fácil gostar dele.
    As interpretações das duas desconhecidas actrizes e a fantástica “Lovely Head” dos Goldfrapp utilizada no início e fim do filme são, para mim, o que “My Summer of Love” tem de bom para oferecer.

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    terça-feira, setembro 13, 2005

    “Bewitched” (2005), Nora Ephron



    Guess what? I'm a witch!

    Isabel Bigelow (Nicole Kidman), uma bruxa a sério, pretende deixar a vida da magia pois deseja tornar-se numa pessoa normal. Ao mesmo tempo o actor Jack Wyatt (Will Ferrell) anseia por encontrar a actriz ideal para ser seu par no remake da famosa série televisiva “Bewitched”. É então que os dois se conhecem e Jack convence Isabel a interpretar o papel da bruxa Samantha na série, não imaginando que ela própria é uma bruxa na vida real.

    A acção do filme é um misto do que se passa nas filmagens da série e a vida fora do estúdio (tendência esta que parece estar na moda).
    Como é de prever logo nos primeiros dois minutos do filme, o romance lamechas de Isabel e Jack tem inúmeras voltas e reviravoltas enjoativas e cansativas.
    Nicole Kidman e Will Ferrel não são um bom par romântico para se ver no grande ecrã: falta química entre os dois.

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    “Os Edukadores” (2005), Hans Weingartner



    Uns contra os outros

    “Os Edukadores” tem como título original “Die Fetten Jahre sind vorbei”, ou seja, “Os dias de abundância estão contados”. É isso que os três jovens protagonistas deste filme alemão/austríaco se propõe a fazer: inquietar e mover as consciências dos mais poderosos. Assim, Jan, Peter e Jule entram nas casas dos mais ricos e, sem roubar nada, reorganizam a mobília e deixam mensagens provocadoras.

    Depois dos jovens entrarem em casa de Hardenberg (um rico empresário que recebe dinheiro de Jule por esta lhe ter batido com o carro), o filme ganha outros contornos uma vez que os jovens idealistas ficam frente-a-frente com um homem que representa todo o poder que eles contestam.

    Focando o idealismo político cada vez mais inexistente principalmente nas camadas mais jovens, “Edukadores” pretende ser também uma história sobre a anti-globalização. Mas também de um pouco de romance vive o filme uma vez que retrata um triângulo amoroso entre os três jovens.

    Como disse em entrevista o realizador, Hans Weingartner: “Acho que vivemos numa época em que os jovens querem que exista uma mudança política, mas não sabem por onde começar. Talvez as nossas sociedades se tenham tornado tão individualistas que a dinâmica colectiva já não seja possível”.

    Com interpretações bastante vigorosas e naturais de Daniel Bruhl, Julia Jentsch e Stipe Erceg, “Os Edukadores” também ganha bastante ao utilizar na recta final a poderosa música “Hallelujah” de Jeff Buckley.O que este filme tem de mais interessante é a reviravolta final que nos deixa completamente surpresos. Porque afinal há coisas e pessoas que nunca mudam...

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