quarta-feira, março 29, 2006

“Casanova” (2006), Lasse Hallström



I've never sought glory as a lover.

A história do italiano Giacomo Casanova é bastante conhecida por todo o mundo. A vida deste sedutor nato já foi adaptada para o cinema inúmeras vezes mas este filme de Lasse Hallström (o realizador de “Chocolat”e “The cider house rules”) recria um episódio específico da vida do mulherengo veneziano: a sua história de amor com Francesca Bruni (Sienna Miller).

Casanova (Heath Ledger) apaixona-se a sério pela primeira vez quando uma mulher recusa o seu amor. Mestre na sedução, este homem pretende a todo o custo conquistar o coração de Francesca ao mesmo tempo que tenta fugir do Inquisidor Pucci (Jeremy Irons) que o pretende prender por deboche e heresia.

Filme de enganos, desencontros e disfarces, “Casanova” não segue os factos históricos da vida do sedutor. É antes uma paródia aos seus complicados esquemas amorosos.
Este é um filme muito pouco credível e exagerado em muitos aspectos.
O ponto favorável vai mesmo para a escolha acertada de terem filmado em Veneza, o “habitat” natural de Casanova.

*

segunda-feira, março 27, 2006

“A history of violence” (2006), David Cronenberg



In this family, we do not solve problems by hitting people!

Tom Stall (Viggo Mortensen) é proprietário de um café numa tranquila cidade americana no estado do Indiana.
A sua vida pacata na companhia da mulher (excelente Maria Bello) e dos dois filhos muda radicalmente a partir do dia em que o seu café é assaltado e Tom, para defender os seus empregados e clientes, mata brutalmente os dois assaltantes.
Depois deste dramático episódio, torna-se o alvo das atenções dos media e começa a ser apelidado por todos como “herói”.
É então que um misterioso homem surge na pequena cidade e afirma conhecer Tom (ou antes “Joey”) e o seu passado violento e secreto.

Com cenas explicitamente violentas (ou não fosse este filme tratar-se de “uma história de violência”), David Cronenberg filma com grande eficiência as angústias de Tom, um homem que quis deixar para trás o seu passado sangrento e recomeçar uma nova vida com uma identidade diferente.
Mas o passado é algo que não se pode simplesmente apagar e é isso mesmo que Carl Fogarty (Ed Harris), o misterioso homem, pretende elucidar em Tom: por muito que este se tenha tornado num homem honesto, respeitado na sua comunidade e amado pela sua família, a sua vida anterior vai sempre persegui-lo.
Joey vai silenciosamente apoderando-se de Tom, que vai ficando, por isso mesmo, cada vez mais violento.

“A history of violence” é particularmente interessante do ponto de vista de nos ser apresentada uma família ideal e feliz que, no entanto, tem inúmeros mistérios por revelar. Nem tudo se diz, nem tudo se mostra, parece ser a tagline deste filme.

O filme deambula muitas vezes entre a comédia negra e o thriller o que nos deixa sem perceber como reagir em determinadas situações.
A cena final, que para muitos é soberba, pareceu-me puxar para a lágrima fácil, o que não é nada bom.

* * *

sexta-feira, março 24, 2006

“Dançar Kylian, Duato e Bigonzetti”, Companhia Nacional de Bailado



Dançar em 3 actos

No meio de um reportório preenchido maioritariamente pelos grandes clássicos do ballet (como “O Quebra Nozes” ou “O Lago dos Cisnes”), a Companhia Nacional de Bailado aposta num espectáculo de dança composto por três peças de coreógrafos modernos: Jirí Kylian, Mauro Bigonzetti e Nacho Duato.

O espectáculo inicia com "Kazimir`s Colours" do coreógrafo italiano Mauro Bigonzetti. Nesta peça que “estabelece um diálogo entre a pintura e a dança", como afirma o seu criador, vemos os bailarinos vestidos de inúmeras cores sempre a entrar e a sair de cena, numa correria reforçada também pela energia dos movimentos e da música.

De seguida é-nos apresentada a coreografia melancólica de Jirí Kylian, “Return to a strange land”. Nesta peça podemos ver belíssimos pas-de-deux e pas-de-trois onde sobressai, sem dúvida, a fantástica Ana Lacerda e o seu corpo esguio e delicado, que se move com uma leveza impressionante.
O mais interessante destas duas coreografias é serem uma junção entre ballet clássico e moderno uma vez que as bailarinas dançam em pontas.

Por último, o Teatro Camões é preenchido por música do século XV e XVI quando começa “Por vos muero” do catalão Nacho Duato. Nesta peça, talvez a que entusiasmou mais o público, o ambiente e o vestuário dos bailarinos fazem lembrar as cortes antigas. Apesar do nome indiciar a ideia de morte, esta é uma coreografia com momentos muito intensos e divertidos.

Recomendo vivamente este espectáculo da Companhia Nacional de Bailado (que pode ser visto até dia 2 de Abril) não só pela qualidade técnica dos bailarinos, mas também pela beleza das coreografias e música.

terça-feira, março 21, 2006

Massive Attack e Sigur Rós: o regresso a Portugal




Depois de terem visitado Portugal no passado mês de Novembro, os Sigur Rós regressam a Lisboa para darem um concerto no dia 16 de Julho no Pavilhão Atlântico.
Quanto aos Massive Attack, vão estar dia 8 Julho também em Lisboa, segundo avança o site oficial da banda.
Duas óptimas notícias para aquecer ainda mais o Verão!

sábado, março 18, 2006

A insustentável leveza do ser



Galatea of the Spheres (1952), Salvador Dalí

segunda-feira, março 13, 2006

“Meds” (2006), Placebo



Sob medicação

Depois de “dormirem com fantasmas” e de editarem o seu primeiro best of, os Placebo regressam aos álbuns de originais pouco inspirados.
De facto, este novo “Meds” não prima pela originalidade pois parece seguir bem de perto o que a banda fez no anterior “Sleeping with ghosts”.

A carreira dos Placebo, que já conta com 10 anos, foi sempre marcada por uma discografia repleta de óptimas canções onde a voz estridente de Brian Molko é a maior característica, a par das guitarras agudas e ásperas.
Com “Without you I´m nothing” (1998) os Placebo criaram a sua melhor obra onde podemos encontrar os já clássicos “Pure morning”, “You don´t care about us” ou “Every you and every me”.
Seguiu-se o igualmente bom “Black market music” (2000), onde o glam-rock continua a ser o maior ingrediente.

A banda inglesa edita agora o seu quinto álbum de originais, “Meds”, que conta com a participação de VV, dos The Kills, e de Michael Stipe, dos R.E.M.
O álbum começa bastante bem com aquela que é a melhor música, “Meds”, com a participação de VV.
De seguida escutamos as interessantes e bastante agradáveis “Infra-Red”, “Drag”, “Space Monkey” e “In the cold light of the morning”, bons exemplos da qualidade musical dos Placebo.
Após um início prometedor, “Meds” perde-se no meio de inúmeras músicas fracas onde se denota a falta de inspiração da banda que se colou bastante às sonoridades já exploradas no trabalho anterior.
Resta-nos o cativante single “Song to say goodbye” para fechar mais compostamente “Meds”.

6/10

domingo, março 12, 2006

“Prime” (2006), Ben Younger



You let me talk to you about his penis?

Rafi (Uma Thurman) é uma mulher nova-iorquina de 37 anos, bem sucedida mas que está a passar por uma fase difícil a nível amoroso: o divórcio.
Conta com a sua terapeuta para lhe aliviar as dores e servir de confidente agora que arranjou um novo namorado muito mais novo. Esta incentiva-a a continuar com a tal relação e acaba por saber todos os pormenores íntimos da mesma.
Os problemas surgem quando Lisa (Meryl Streep), a sua terapeuta, descobre que a nova paixão de Rafi é o seu filho de 23 anos.

A graça deste filme resume-se basicamente à interpretação da fantástica Meryl Streep, que constrói na sua terapeuta/mãe-galinha/judia convicta uma personagem bastante viva, divertida e amargurada pelo desgosto de ver o seu filho a namorar com uma divorciada muito mais velha que é, por acaso, sua paciente.
Uma Thurman também está muito bem e consegue criar com Meryl Streep uma química convincente e muito agradável.

Este é daqueles casos que mais vale não ver o trailer do filme porque tal acaba logo com qualquer surpresa que possa surgir.Em “Prime”, vamos com a expectativa de encontrar uma comédia bastante simpática e competente mas depois percebemos que o trailer, além de ter exposto o interesse principal do filme, tem muito mais piada que este.

* *

sexta-feira, março 10, 2006

“Coisa Ruim” (2006), Tiago Guedes/Frederico Serra



Vens-me buscar Ismael?

Uma família de Lisboa herda uma casa no interior de Portugal e decide mudar completamente de vida ao ir viver para lá.
O que esta família citadina ignora é que a população da aldeia conhece a história daquela casa e todo o mistério e maldições que nela habitam.
As crendices e superstições dos habitantes da aldeia começam a preocupar os pais desta família enquanto os filhos têm visões das três crianças que foram assassinadas pelo antepassado que era dono daquela mansão.

“Coisa Ruim” foi escrito pelo jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho que se inspirou nos vários mitos e lendas de um Portugal profundo que, ainda hoje, coabita com cultos religiosos de origem cristã e pagã.
O suspense do filme vive sobretudo daquilo que não é contado explicitamente mas sim pelas pequenas alusões que nos levam a tirar determinadas conclusões.
Não sendo um filme de terror, “Coisa Ruim” procura provocar-nos medo de outras formas: a existência do Diabo em qualquer um de nós é uma das considerações em que se baseia este filme.

"Coisa ruim" é um filme bastante sombrio e onde aquilo que fica por dizer e mostrar mete, definitivamente, mais medo do que aquilo que é apresentado.
Os dois actores principais (Adriano Luz e Manuela Couto) têm um desempenho muitíssimo convincente e emotivo.
Um marco importante no cinema português que não tem ainda grande tradição no género do fantástico.

* * *

quinta-feira, março 09, 2006

“Good night, and good luck” (2006), George Clooney


Cassius was right. "The fault, dear Brutus, is not in our stars, but in ourselves." Good night, and good luck.

Nos anos 50, os Estados Unidos da América viveram uma época marcada pela perseguição aos comunistas, mais conhecida como “caça às bruxas”.
Edward R. Murrow (David Strathairn), um jornalista bastante conhecido da cadeia de televisão CBS, pretende informar e elucidar os americanos quanto às políticas pouco democráticas do senador Joseph McCarthy, arriscando-se a sofrer retaliações e queixas por parte dos seus superiores.
O seu programa, antes em horário nobre, é transferido para o turno da tarde mas o efeito gerado pelas suas investigações é bastante positivo uma vez que veio desmascarar os planos anti-comunistas de McCarthy.

Realizado por George Clooney (que também entra no filme e desempenha o papel de produtor de Murrow), “Good night, and good luck” é um retrato fiel de uma época conturbada da história americana, onde a desconfiança, a censura e a insegurança faziam parte do quotidiano.
A opção de ser filmado a preto e branco, onde as sombras/contrastes e o fumo sobressaem, dá um cariz muito real ao filme pois envolve-nos ainda mais naquele período.
Destaque para o excelente leque de actores: David Strathairn, George Clooney, Robert Downey Jr., Patrícia Clarkson, Jeff Daniels, entre outros.

* * * *

segunda-feira, março 06, 2006

YESSSSSSSSSSSSSSSS!



"Crash" - vencedor do Óscar de Melhor Filme

domingo, março 05, 2006

“Transamerica” (2006), Duncan Tucker



My body may be a work-in-progress, but there is nothing wrong with my soul.

Bree (Felicity Huffman) é uma mulher transexual à qual falta apenas a operação final para dar por completa a sua transformação sexual.
Enquanto se prepara para esta nova e importante etapa na sua vida, Bree toma conhecimento que tem um filho delinquente de 17 anos que está preso em Nova Iorque e parte ao seu encontro.
Mãe/Pai e filho iniciam uma viagem de carro de costa a costa americana passando por vários episódios insólitos como a descoberta de Toby (Kevin Zegers) de que aquela senhora que ele julgava pertencer a uma congregação religiosa é afinal um homem, a visita de Bree à sua família que não aceita a sua nova sexualidade e a revelação da verdadeira identidade de Bree como pai de Toby.

“Transamerica” surge sobre a forma de um roadmovie que se desenvolve em pequenas etapas que vão culminar em Los Angeles, onde uma operação espera a protagonista. Mas a operação a que Bree se vai submeter não só lhe mudará o sexo como também lhe trará a felicidade e a aceitação por que tanto anseia.

O humor que pontua certas cenas (principalmente o reencontro de Bree com a sua famíla) é uma mais valia para “Transamerica” ser um filme aparentemente leve apesar de tratar um tema difícil. Este filme não é um mero objecto cómico mas sim uma obra que nos dá que pensar sobre estas pessoas que se vêm desconfortáveis com o sexo com que nasceram.
O realizador Duncan Tucker filmou um verdadeiro transexual sem nunca ridicularizar ou menosprezar estes ser humanos um pouco diferentes dos demais.

Felicity Huffman (notabilizada através da série “Desperate Housewifes”) é encantadora enquanto Bree e merece, mais do que ninguém, ser reconhecida por este papel magnífico.

* * * *

Óscares: os favoritos cá do sítio



Melhor filme – Crash
Melhor actor principal: Philip Seymour Hoffman (Capote)
Melhor actriz principal: Felicity Huffman (Transameica)
Melhor actor secundário: Jake Gyllenhaal (Brokeback Mountain)
Melhor actriz secundária: Rachel Weisz (The Constant Gardener)
Melhor realizador: Steven Spielberg (Munich)
Melhor argumento original: Match Point (Woody Allen)
Melhor argumento adaptado: Munich
Melhor filme de animação: Corpse Bride

sábado, março 04, 2006

“Capote” (2006), Bennett Miller



It's as if Perry and I grew up in the same house. And one day he went out the back door and I went out the front.

Em 1959, o aclamado escritor Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê a notícia de um assassinato de uma família no Kansas. Interessa-se de imediato por este crime e não lhe chega apenas fazer uma reportagem para a revista New Yorker: Capote pretende escrever um livro onde a realidade dos factos se mantém. Cria assim um novo género literário apelidado de “romance não-ficcional”.
No decorrer da sua investigação, Capote conhece os dois assassinos e tornar-se especialmente íntimo de um deles, Perry Smith (Clifton Collins Jr.), com o qual acaba por sentir inúmeras afinidades.

O que este “Capote” tem de mais interessante é o facto de não ser uma mera biopic mas sim o retrato de uma época específica da vida deste escritor, nomeadamente o tempo de preparação do livro que viria a ser a sua obra-prima.
No filme, o que vemos é todo o processo criativo que esteve por trás de In cold blood e o homem que o escreveu, homem esse que não é caracterizado como um herói cheio de virtudes mas sim como alguém manipulador e insensível.
Para conseguir escrever aquilo que o próprio tinha noção de ser uma grande obra, Capote não olha a meios para atingir os seus fins e torna-se num ser egoísta e calculista.

Philip Seymour Hoffman é arrebatador como Truman Capote, captando todos os tiques e maneirismos do escritor norte-americano. Pela primeira vez, este actor que se notabilizou por inúmeros papéis secundários de qualidade, deu uma prova maior do seu enorme talento que lhe pode muito bem valer um Óscar (é o meu candidato favorito).

* * * *

quarta-feira, março 01, 2006

Frida Kahlo no CCB

A coluna partida, 1944

Até dia 21 de Maio o Centro Cultural de Belém apresenta uma exposição sobre a vida e obra de Frida Kahlo, a famosa pintora mexicana que teve uma grande importância na arte do século XX.
Nesta exposição podemos contemplar 26 obras de Frida, fotografias de toda a sua vida, fragmentos do seu diário e ainda trajes típicos mexicanos que faziam parte da indumentária da pintora.
É uma exposição muito interessante que nos dá a conhecer um pouco mais sobre a vida solitária desta mulher que transpunha para os seus quadros todas as suas dores (físicas e psicológicas).
Apesar da iluminação não ser a melhor, vale muita a pena ir até ao CCB e descobrir algumas das mais emblemáticas pinturas de Frida Kahlo.