A rainha das pistas de dança
Há 22 anos uma rapariga lançou o seu primeiro álbum repleto de músicas para dançar até de madrugada nas discotecas nova-iorquinas da altura. O que ninguém pensava é que essa mesma rapariga viesse a tornar-se num dos maiores ícones dos nossos tempos e que passados tantos anos voltasse às origens. Porque Madonna, como artista, nasceu no meio das pistas de dança e é para aí mesmo que regressa neste seu novo trabalho.
“Confessions on a dance floor” é o álbum que trás a Madonna que muitos julgavam já extinta: uma Madonna cheia de vontade de dançar e mais preocupada em pôr os ouvintes a abanar o corpo do que em fazer baladas e músicas muito profundas.
Mas engane-se quem pensar que estas confissões de Madonna estão desprovidas de conteúdo e profundidade: há algumas músicas, com especial evidência na “Let it will be”, que ganham muito pela letra.
Após “American Life” ter sido recebido com alguma indiferença pela crítica e público, “Confessions on a dance floor” parece destinado a triunfar. A abrir com o já mega-sucesso “Hung up” que utiliza um sample da famosíssima “Gime Gime Gime (a man after midnight)” dos Abba, este álbum nunca quebra o ritmo ao longo das 12 músicas que estão interligadas.
Inspirado nas décadas de 70 e 80, o novo álbum de Madonna regressa aos sons electrónicos e disco reciclando algumas sonoridades que pareciam perdidas no tempo.
Sendo revivalista mas ao mesmo tempo futurista, este álbum é um conjunto de grandes músicas que muito ficam a dever ao produtor Stuart Price (a.k.a Jacques Lu Cont) que trabalha com Madonna há já alguns anos.
“Sorry”, o já confirmado (e acertado) segundo single, é tão catchy como “Hung Up”, com um refrão que não vai passar despercebido.
Depois temos “Future Lovers” que de início lembra “Rescue me” da primeira compilação de Madonna (“The Immaculate Collection”). Uma música que, tal como o nome indica, é deliciosamente futurista bem ao contrário dos anos 80 que são bem explícitos em “I love New York”, a música que homenageia a cidade que a tornou conhecida.
“Let it will be” começa por nos fazer lembrar o sucesso da diva de 1986, “Papa don´t preach”. Mas ao invés de falar sobre os problemas da gravidez na adolescência, Madonna fala-nos da fama e do sucesso como duas coisas que não lhe trouxeram felicidade. A par da fantástica “Like it or not”, que encerra o álbum com uma batida intensa a fazer lembrar Goldfrapp, estas duas são provavelmente as músicas mais interessantes a nível de letras.
“Forbidden love” é a mais calma e a sua doçura remete-nos para os ambientes oníricos dos Air.
“Jump” é a música para dançar sem parar numa discoteca revivalista, enquanto “How High” é exageradamente robótica, com batidas electrónicas acompanhadas com a voz de Madonna distorcida no vocoder.
E como não poderia deixar de ser, Madonna fez questão de fazer uma música baseada na sua crença religiosa, a Cabala. “Isaac” é o ponto mais dispensável do álbum que, apesar de ter uma melodia interessante, muito fica a perder pela voz masculina.
“Push” é um achado de ritmo e exotismo.
“Confessions on a dance floor” é um belíssimo regresso de Madonna aos grandiosos álbuns pop, algo que não acontecia desde “Ray of light”.
Aqui temos Madonna num registo eficaz e cativante, que a transporta para o seu habitat natural: as pistas de dança.
Principais destaques: “Hung up”, “Sorry”, “I love New York”, “Forbidden Love” , “Push” e “Like it or not”.
9/10