domingo, abril 30, 2006

“Lisboetas” (2004), Sérgio Trefaut



“Lisboetas” de Sérgio Trefaut ganhou o Prémio de Melhor Filme Português na primeira edição do IndieLisboa.
Mais do que um filme sobre a estranheza e desconforto de ter que partir para longe da família e do país natal, “Lisboetas” é um olhar sociológico sobre as verdadeiras realidades com que os imigrantes se deparam quando chegam ao nosso país.

Este documentário retrata a vida e as dificuldades de imigrantes de diversos países (Brasil, Ucrânia, Moldávia, China, Índia, Angola, etc.) que procuram no nosso país uma vida melhor.
Arranjar trabalho, aprender uma língua e uma cultura completamente diversa e, principalmente, sobreviver num país longínquo são os obstáculos que todos os imigrantes encontram. Em “Lisboetas” a câmara segue os passos de vários destes imigrantes que procuram na nossa capital ganhar o seu sustento e, de alguma maneira, sentirem-se como verdadeiros lisboetas.

Este documentário mostra-nos como estas pessoas por vezes diferentes de nós e que vemos todos os dias, são cidadãos lisboetas tão legítimos como aqueles que nasceram na capital: eles são importantes alicerces (muitas vezes explorados) para Lisboa ser a cidade que é.

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terça-feira, abril 25, 2006

“The ice harvest” (2006), Harold Hamis



He actually threatened to shoot Gladys if I did't tell him where the money was. But I think he was counting on a level of commitment and affection between her and me that just simply wasn't there.

Charlie (John Cusack) e Vic (Billy Bob Thornton) são dois advogados que planeiam roubar 2,15 milhões de dólares ao patrão na véspera de Natal. Pretendem fugir da sua cidade, Wichita, mas a fuga é adiada para o dia seguinte por causa de uma tempestade de gelo. Entretanto Charlie faz planos com a femme fatale Renata (Connie Nielsen), por quem está apaixonado, para ela partir com ele.

“The ice harvest” vai buscar todo o imaginário dos filmes noir mas fica-se apenas pelas boas intenções: na prática é um filme aborrecido, um tanto confuso, com um argumento banal que nunca chega a cativar.
John Cusack, um actor que já nos habituou à sua entrega total em papéis de “pessoas normais”, e algumas piadas de humor negro são as melhores coisas deste filme.
A prestação de Cusack como advogado de um mafioso apaga quase por completo todas as outras personagens do filme, nomeadamente a de Billy Bob Thornton que passa completamente despercebido.

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sexta-feira, abril 21, 2006

“Inside man” (2006), Spike Lee



My name is Dalton Russell. Pay strict attention to what I say because I choose my words carefully and I never repeat myself.

Spike Lee é considerado como um dos mais criativos e políticos realizadores americanos. Depois de realizar um dos grandes filmes dos últimos tempos, “25th hour”, o ano passado não parece ter corrido assim tão bem a Lee uma vez que a sua obra “She hate me” tenha ficado para muita gente apenas marcada pela premissa interessante.
O novo filme de Spike Lee parece fazer esquecer um pouco a mediania do filme anterior.

Um grupo planeia um assalto perfeito a um importante banco de Nova Iorque. Os inúmeros reféns são obrigados a vestirem-se tal como os ladrões, liderados por Dalton Russel (Clive Owen), para criarem a confusão entre quem é culpado e quem é inocente.
O Detective Keith Frazier (Denzel Washington) é nomeado para negociar com os assaltantes e garantir que estes não matam nenhum refém enquanto o director geral do banco (Christopher Plummer) contrata Madeline White (Jodie Foster) para esta assegurar que um segredo seu que está dentro de um dos cofres não seja revelado.

“Inside Man” é grandioso pela maneira energética com que é filmado e por abordar os temas que são tão característicos de Spike Lee: as tensões sociais e raciais numa América que é uma mistura complexa de inúmeras identidades.
Marcadamente mais mainstream do que as anteriores obras do realizador, “Inside Man” consegue ser um grande filme de puro entretenimento mas ao mesmo tempo ser inteligente e ter substância.
Com um trio de actores do mais alto calibre, o filme vai desenrolando-se a uma velocidade alucinante deixando o espectador com enorme expectativa quanto ao desenvolvimento da trama.
Os diálogos bastante políticos e com algum humor inteligente à mistura são também umas das boas características de “Inside Man”, bem como o argumento imprevisível e surpreendente.

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quarta-feira, abril 19, 2006

O lago dos cisnes



Swans reflecting elephants (1937), Salvador Dalí

segunda-feira, abril 17, 2006

“Basic Instinct 2” (2006), Michael Caton-Jones



Instintos do mais básico que há

A sedutora Catherine Tramell faz já parte do imaginário (principalmente masculino) cinematográfico. O seu descruzar de pernas enquanto estava a ser interrogada no filme “Basic Instinct” de 1992 tornou-se uma das mais famosas cenas do cinema não só pela carga erótica que carrega mas também por ser uma cena onde o papel manipulador e controlador ser de uma mulher. Sharon Stone transformou-se numa estrela com essa personagem e nunca mais conseguiu livrar-se da pele de femme fatale.
Faz sentido fazer uma sequela do thriller mais famoso do mundo? A resposta é definitivamente não após visionarmos “Basic Instinct 2”.

Catherine Tramell (Sharon Stone), a popular escritora de policiais eróticos, é suspeita de ter morto o seu namorado, um famoso desportista.
O psiquiatra Michael Glass (David Morrissey) fica responsável pela avaliação daquela misteriosa e aliciante mulher. Entre ambos há, desde logo, uma intensa atracção. Michael deixa-se seduzir por Catherine que o envolve num jogo de mentiras, sexo e morte. Mas a questão que se coloca é: será que é Catherine que manipula Michael ou é o contrário que se passa?

“Basic Instinct 2” tem um argumento bastante fraco apesar de dar ares de ser muito rebuscado. As falas de teor sexual que acompanham o filme todo são, muitas vezes, ridículas e despropositadas enquanto que o actor principal, David Morrissey, consegue a proeza de ser um mero boneco ao não exprimir qualquer sentimento.
Os ambientes sofisticados, principalmente a casa de Catherine e o consultório de Glass, são os pontos mais favoráveis desta sequela tão básica.

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quarta-feira, abril 12, 2006

“La tigre e la neve” (2006), Roberto Benigni



A vida é outra vez bela

Em 1997 Roberto Benigni comoveu o mundo inteiro com o seu filme “La vita è bella”, uma intensa e emocionante história de amor durante a Segunda Guerra Mundial.
Com “La tigre e la neve” Benigni vai buscar de novo esse imaginário com cenário bélico, desta vez a Guerra do Iraque, para nos contar uma história onde o amor é, mais uma vez, o grande impulsionador dos actos humanos.

Attilio (Roberto Benigni) é um poeta e professor universitário que sonha encontrar a mulher ideal. Através do seu amigo Fuad (Jean Reno), um poeta iraquiano, Attilio conhece Vittoria (Nicoletta Braschi) e apaixona-se perdidamente por ela. Apesar dos esforços do poeta, Vittoria permanece indiferente às suas desajeitadas investidas amorosas.
Quando recebe a notícia de que Vittoria se encontra num hospital em Bagdad após ter sido vítima de um bombardeamento, Attilio parte imediatamente para a capital iraquiana para salvar a sua amada.

Como já referi, “La tigre e la neve” tem algumas semelhanças com “La vita è bella” principalmente por se tratar de uma história de um homem que comete as maiores loucuras para ir ao encontro do seu grande amor. Os campos de concentração da Segunda Guerra Mundial são neste filme substituídos por um hospital sem quaisquer condições em Bagdad, durante a Guerra do Iraque em 2003.

“La tigre e la neve” não consegue superar a obra-prima de Benigni pois está muito colada a ela mas, no entanto, consegue ser um filme bastante bonito e humano, onde as peripécias deste homem nos fazem rir ao mesmo tempo que nos comovemos com a sua entrega incansável ao amor.

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domingo, abril 09, 2006

“Show your bones” (2006), Yeah Yeah Yeahs



Música de carne e osso

Apanhando a onda sonora dos The Strokes, os nova-iorquinos Yeah Yeah Yeahs começaram a dar nas vistas por volta de 2000, quando eram ainda uma banda de suporte de artistas como os White Stripes ou Jon Spencer Blues Explosion.
Depois de dois EP´s (“Yeah Yeah Yeahs” e “Machine”), a banda lançou em 2003 o seu primeiro álbum: “Fever to tell” é um elogio às guitarradas e à pujança punk repleta de uma agressiva sexualidade.
Neste primeiro trabalho, a banda liderada pela carismática Karen O conseguiu ir buscar o revivalismo pós-punk e juntar-lhe a sujidade e aspereza do rock de garagem.
Mas porque será que esta banda, aparentemente igual às milhares que andam por aí neste momento, conseguiu fazer uma obra-prima logo no primeiro álbum?
A resposta reside no facto de “Fever to tell” ser um dos álbuns mais enérgicos e contagiantes dos últimos anos, onde não nos cansamos de escutar aquelas músicas que transpiram rock e sexo por todos os lados e onde a voz pouco trabalhada de Karen O se conjuga na perfeição com as melodias ainda por limar. Este álbum é um manifesto genuíno ao puro rock.

Após três anos desse fantástico “Fever to tell”, os Yeah Yeah Yeahs regressam com “Show your bones”, um álbum mais calmo e adulto.
Aqui, a voz de Karen O está notoriamente mais controlada e o som da banda surge mais límpido e trabalhado. As temáticas de “Show your bones” já não são tão explicitamente sexuais e as melodias, outrora agressivas, ganham mais doçura e serenidade (em “Dudley” ou “Sweets”, por exemplo).
Mas não se pense que não vamos encontrar em “Show your bones” canções de puro rock e pós-punk: o primeiro single “Gold Lion”, “Way Out”, “Phenomena” ou “Mysteries” são uma boa prova de como os Yeah Yeah Yeahs deixam bem marcado, mais uma vez, o estilo que tanto os caracteriza.

9/10

quarta-feira, abril 05, 2006

“Breakfast on Pluto” (2006), Neil Jordan



Not many people can take the tale of Patrick Braden, aka St. Kitten, who strutted the catwalks, face lit by a halo of flashbulbs as "oh!" she shrieks, "I told you, from my best side darlings."

Irlanda, anos 70. Abandonado à nascença na porta de uma igreja, Patrick "Kitten" Braden (Cillian Murphy) desde cedo se apercebe que é diferente dos outros rapazes. Não se sente bem no seu corpo masculino mas não deixa que ninguém mude a sua maneira de ser tão peculiar, tão cheia de fantasia e sonho.
Com a intenção de procurar e conhecer a sua verdadeira mãe, Patrick parte para Londres, a cidade onde vai deambular pelos caminhos da música, prostituição e do ilusionismo. No meio disto tudo, e sem o desejar, Patrick também se vê envolvido no IRA.

“Breakfast on Pluto” é, antes de mais, uma fábula moderna de uma enorme beleza.
Neste filme, a personagem principal é simplesmente encantadora pelo facto de ir em busca dos seus sonhos e pelas ligações tão especiais e profundas que mantém com os seus amigos de infância.
Marcado pelo estilo realista do cinema inglês, “Breakfast on Pluto” é uma fabulosa narração (pelo próprio Kitten que divide a sua história em capítulos) do assumir de uma condição feminina por parte de um homem. Mas apesar de todo este realismo que estar bem presente, aqui encontramos também inúmeras cenas onde é a ilusão e o sonho que comandam (por exemplo na cena genial em que Kitten imagina que está a salvar o mundo com um frasco de perfume).

Neste deambular entre géneros, “Breakfast on Pluto” é sobretudo um retrato de um inadaptado, de alguém que concebe o seu próprio mundo e que parece viver a quilómetros de distância dos outros.
Cillian Murphy é espantoso na sua interpretação do excêntrico Kitten, um ser tão cheio de encanto. O actor entregou-se de corpo e alma a este papel e isso dá para sentir e ver na sua interpretação tão humana e cativante.
O filme também é enriquecido pela fotografia repleta de cores vivas e berrantes, bem ao estilo dos anos 70, pela fantástica banda-sonora que evoca também essa década e pelas interpretações secundárias de Stephen Rea e Liam Nesson.

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domingo, abril 02, 2006

“V for Vendetta” (2006), James McTeigue



Remember, remember, the fifth of November, The gunpowder treason and plot. I know of no reason why the gunpowder treason should ever be forgot.

Baseado na graphic novel com o mesmo nome, “V for Vendetta” retrata uma Grã-Bretanha futurista, com um governo totalitário a lembrar os tempos do nazismo.
V (Hugo Weaving) é um homem que pretende acabar com a opressão e ditadura do seu país e enceta os seus compatriotas a participarem numa revolução.
Este visionário político usa uma máscara com a face de Guy Fawkes, o homem que no dia 5 de Novembro de 1605 pretendeu explodir com o Parlamento inglês.
Inesperadamente, V ganha uma cúmplice: Evey (Natalie Portman) uma jovem que ao conhecer este misterioso homem, vai conhecer-se a si mesma.

Com um ambiente futurista q.b (digo q.b pois é um futuro bastante próximo, onde não há robots nem coisas que tais), “V for Vendetta” alerta-nos para uma situação que pode muito bem vir a repetir-se: a subida ao poder de governantes fascistas que pretendem uniformizar as sociedades. Este conceito lembra (e muito) o livro de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo.

Polémico (será V um terrorista?) e incómodo, “V for Vendetta” é um filme que levanta inúmeras questões sobre o nosso papel no mundo. Devemos ficar passivos à espera que alguns resolvam as coisas ou, tal como V, devemos lutar por um mundo mais justo e livre, mesmo que para isso tenhamos que cometer actos extremistas? Cabe a cada um reflectir sobre este e muitos outros assuntos.

Natalie Portman é muito convincente no papel de Evey, mostrando mais uma vez que é uma jovem actriz para ser levada a sério e com grandes capacidades dramáticas.
Hugo Weaving, apesar de nunca mostrar a cara, também tem um desempenho bastante positivo, repleto de falas poéticas.

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