segunda-feira, fevereiro 19, 2007

“Little Children” (2006), Todd Field



Segredos íntimos

Todd Field impressionou meio mundo quando estreou o muito aclamado e dramático “In the Bedroom” em 2001. Este ano estreia “Little Children” que, à semelhança do antecessor, tem como principais temáticas a família e os dramas interiores.

Baseado num romance de Tom Perrota, “Little Children” tem como pano de fundo um qualquer subúrbio norte-americano. Sarah (Kate Winslet), tal como as outras mães, leva todas as tardes a sua filha ao parque infantil. Mas esta mulher não se identifica com as superficialidades das outras mães; Sarah pretende ter uma vida diferente e mais emocionante. A monotonia do quotidiano de Sarah muda completamente quando conhece Brad (Patrick Wilson), um homem que tem o papel incomum de cuidar do filho enquanto a mulher trabalha.

“Little Children” é, pois, uma história de adultos. Sarah tenta fugir à banalidade da sua vida, ao marido que está mais interessado na pornografia cibernética do que nela e às suas funções como mãe. Sarah quer, tal como a Madame Bovary citada no filme, algo mais da sua vida, algo extraordinário e excitante. Por isso envolve-se com Brad, um homem que, apesar de aparentemente ter uma mulher perfeita, sente falta de afectos (a sua mulher é viciada no trabalho e prefere passar os tempos livres a apaparicar o filho).

Outra personagem central nesta grande história feita de pequenas histórias é Roonie (Jackie Earle Haley), um pedófilo recentemente libertado da prisão. Este homem acaba por ser o bode expiatório de tudo o que acontece de mal neste subúrbio. Os adultos desta pequena comunidade organizam-se para protegerem os seus filhos deste homem (impressionante a cena da piscina) mas não se preocupam com os seus próprios erros e mesquinhices. Ronnie é aqui retratado como um homem frágil e humano que vive com a mãe que tenta, a todo o custo, transformá-lo num homem normal.

“Little Children” é um herdeiro perfeito dos melodramas clássicos dos anos 50, onde tudo parece perfeito mas a realidade é muito mais “negra”. Personagens bem caracterizadas e “humanizadas”, o clima da tragédia sempre a pairar no ar, histórias que acabam por se cruzar no parque infantil e na piscina do subúrbio e um narrador que vai relatando os factos e pormenores íntimos das personagens: “Little Children” é um belíssimo retrato daquilo que sabemos que existe mas que está muitas vezes escondido pelas convenções sociais.

Kate Winslet, excelente como sempre, está nomeada para o Óscar de Melhor Actriz, enquanto Jackie Earle Haley está nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário. Pactrick Wilson, que o ano passado vimos em “Hard Candy” (numa interpretação completamente diferente), tem também um papel de destaque neste filme.

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terça-feira, fevereiro 13, 2007

Cena Clássica #8



"Breakfast at Tiffany´s"(1961), Blake Edwards

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

“Scoop” (2007), Woody Allen



I was born of the Hebrew persuasion, but I converted to narcissism.

Depois de ter estreado o ano passado um dos melhores filmes de 2006, o negro “Match Point”, Woody Allen volta à comédia com “Scoop”.
De novo com Inglaterra como cenário e com Scarlett Johansson no papel feminino principal, “Scoop” vem demonstrar como Allen não se esqueceu de como se faz uma boa comédia, com um texto inteligente e uma escolha de actores bastante acertada.

Sondra Pransky (Scarlett Johansson) é uma jovem estudante de jornalismo que recebe uma enigmática visita do fantasma de um jornalista que morreu e que tem para lhe oferecer uma história bombástica. O jornalista revela a Sondra novas pistas sobre o “Assassino da Carta de Tarot”, um serial-killer que mata mulheres de cabelo curto e escuro. Com a ajuda de um mágico desastrado (o próprio Woody Allen), a investigação leva Sondra até Peter Lyman (Hugh Jackman), um galante e charmoso homem de negócios.

Esta nova comédia de Woody Allen não está ao nível de “Match Point” mas também não desilude ninguém. Com os diálogos frenéticos a que Allen nos habituou, “Scoop” é uma divertida comédia que, à semelhança do seu filme “The Curse of the Jade Scorpion” de 2001, tem como pano de fundo o universo da magia.

Scarlett Johansson, que não costumamos ver em papéis cómicos, saiu-se bastante bem em “Scoop”. Há quem veja no seu papel uma espécie de Allen no feminino, tal é a semelhança dos tiques e da maneira de falar. Woody Allen e Hugh Jackman também estão bastante bem nos seus papéis em tudo divergentes.

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sábado, fevereiro 03, 2007

“The pursuit of hapyness” (2007), Gabrielle Muccino



-What would you say if man walked in here with no shirt, and I hired him? What would you say?
-He must have had on some really nice pants.

“The pursuit of hapiness” é um filme baseado na história verídica de Christopher Gardner (Will Smith), um vendedor que pretende tentar a sua sorte como corretor da bolsa. Farto de andar de hospital em hospital a vender uma máquina em que quase ninguém vê utilidade, Chris pretende mudar de profissão para poder oferecer ao seu filho uma vida melhor. Este homem terá que provar no seu estágio que é o melhor candidato a trabalhar na bolsa, não só porque é um homem extremamente inteligente como também um grande lutador.

Apesar do ritmo algo lento que o filme adopta, “The pursuit of hapiness” não deixa de nos deixar comovidos e inspirados pela força de vontade dum homem que do nada, fez fortuna. A história típica do self-made man é particularmente comovedora neste filme uma vez que Chris tem à sua guarda o filho de cinco anos (que é, em jeito de curiosidade, interpretado pelo próprio filho de Will Smith) e é nele que encontra as forças para seguir o seu sonho.

Will Smith tem neste filme um papel que lhe valeu a nomeação para o Óscar de Melhor Actor Principal. Smith revela-se assim um actor versátil, bastante competente na interpretação de papéis dramáticos.


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sexta-feira, fevereiro 02, 2007

“Babel” (2006), Alejandro González Iñarritu



(In)Comunicação Intercultural

O cineasta mexicano Alejandro González Iñarritu estreia agora o filme que marca o fim da sua “trilogia da dor” iniciada em 2000 com o filme “Amores Perros”. Desde esta primeira incursão sobre os caminhos do sofrimento do homem, Iñarritu surpreendeu pela aparente desconstrução dos seus filmes. A montagem intercalada de diferentes histórias, que no fim acabam por se interligar, é a característica mais marcante desta trilogia composta por “Amores Perros” (2000), “21 Grams” (2003) e o mais recente “Babel”.

Em “Babel” existem três histórias paralelas, cada uma passada num continente diferente. Em Marrocos, duas crianças acabam por alvejar uma americana (Cate Blanchett) enquanto brincam com a espingarda que o pai lhes deu. Nos EUA uma empregada mexicana tem que ir ao casamento do filho mas como não arranja ninguém que fique com as crianças, atravessa a fronteira com o México e leva consigo os dois filhos dos patrões. No Japão, uma jovem surda-muda procura desesperadamente a atenção e afecto por que tanto anseia. Órfã de mãe, Chieko (Rinko Kikuchi) expressa a sua vontade de se adaptar ao mundo que a rodeia expondo a sua sexualidade.

Três continentes diferentes, três culturas e inúmeras personagens acabam por se relacionar em “Babel”, filme belíssimo sobre as fragilidades que acabam por afectar todos os seres humanos.
Quer na aridez marroquina e americana, quer na grande metrópole que é Tóquio, todas as personagens estão isoladas e incapacitadas de comunicar umas com as outras. “Babel” é, desde já, o meu favorito ao Óscar de Melhor Filme.

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